Enquanto
a Oi anda às voltas com a fusão com a PT, a Telefónica vai às compras. A
empresa liderada por César Alierta anunciou nesta terça-feira uma oferta de
20.100 milhões de reais (cerca de 6700 milhões de euros) pela aquisição da GVT,
empresa de cabo e banda larga da Vivendi. Em cima da mesa está uma oferta em
dinheiro e acções: cerca de 12 mil milhões de reais e uma participação em torno
de 12% do capital da nova empresa que resultar da fusão entre a Telefónica
Brasil e a Global Village Telecom (GVT).
Isto
se a Vivendi aceitar o negócio e vender a sua operadora de televisão por cabo,
que tem oferta de banda larga, mas não tem serviço de telecomunicações móveis e
que, na junção com a Telefónica Brasil (dona da Vivo), passaria a estar apta a
oferecer serviços convergentes, ou seja, pacotes de serviços que incluem
televisão, internet e comunicações fixas e móveis.
Se
a operação for para a frente dará origem ao maior operador de banda larga do
mercado brasileiro, com mais de sete milhões de clientes e 30% do mercado, à
frente da Telmex. A nova empresa teria 1,5 milhões de clientes de TV paga, com
uma quota de 7,84% do mercado, depois da Telmex e da Sky, de acordo com uma
nota de research divulgada nesta terça-feira pelo Millennium Investment
Banking.
Segundo
a versão electrónica do jornal Folha de São Paulo, a oferta da Telefónica surge
depois de o presidente da empresa francesa, Vincent Bollore, ter afirmado que o
grupo, apesar de estar a focar-se na área de média, gostaria de manter o seu
último activo do sector das telecomunicações. Em comunicado, a empresa veio
dizer que nenhuma das suas unidades está à venda, mas que irá analisar a oferta
espanhola na próxima reunião do conselho de administração.
Numa
espécie de dois em um, a Telefónica procura ainda com esta operação resolver
uma questão pendente com as autoridades brasileiras. Em causa está a sua
posição de 8,3% na Telecom Italia (TI), que também é dona da operadora móvel
TIM. A presença da Telefónica no capital da Telecom Itália nunca foi bem aceite
pela Conselho Administrativo de Defesa Económica (CADE), tendo em conta que a
Telefónica controla a Vivo, que concorre directamente com a TIM.
Agora
a Telefónica admite que as acções da TI podem ser usadas como parte do
pagamento pela compra da GVT. No comunicado enviado ao regulador da bolsa
espanhol, a Telefónica explica que, “na hipótese de a Vivendi estar interessada
na aquisição de uma participação estável na Telecom Itália”, poderia
“oferecer-lhe a compra” da posição de 8,3% do capital e votos da Telecom
Itália, directamente ou através de instrumentos convertíveis em acções. A
oferta é válida até 3 de Setembro.
O
site do jornal Gazeta do Povo, de Curitiba (onde está sedeada a GVT, que tem
presença em 160 cidades), destaca “a ironia” por detrás desta oferta da
Telefónica. O jornal recorda que, em 2009, a GVT foi pretexto para uma troca de
acusações entre espanhóis e franceses quando os segundos conseguiram levar a
melhor na disputa pelo controlo da operadora de cabo recorrendo à compra de
acções e opções através de um fundo anónimo. O fundo foi multado pelo regulador
da bolsa brasileiro em cerca de dez milhões de reais (aproximadamente três
milhões de euros ao câmbio actual), mas a Vivendi ganhou a batalha.
A
aquisição da GVT faz todo o sentido para a TIM, para se tornar num operador
convergente, com serviços de televisão e comunicações fixas. No mês passado o
presidente executivo da TI, Marco Patuano, tinha dito que a fusão entre estas
empresas não está na agenda, embora não possa ser descartada. Para a
Telefónica, que tem de desfazer-se da sua posição (indirecta) na TIM, faz todo
o sentido antecipar-se a um negócio que deixará a sua concorrente directa mais
forte.
ANA
BRITO
Terça-feira,
5 de agosto, 2014.
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