O ex-juiz Sergio Moro,
pré-candidato do Podemos à Presidência da República, defendeu uma rápida
aglutinação da terceira via em torno de uma única candidatura ao Palácio do
Planalto para enfrentar o que considera “extremos” nas eleições de outubro, o
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o presidente Jair Bolsonaro.
Em entrevista exclusiva à
Reuters, Moro disse que a aglutinação tem de se dar em torno de projetos e
sugeriu que o critério deve ser quem está mais na frente nas pesquisas –na
maioria das sondagens de opinião ele aparece neste momento numericamente em
terceiro lugar.
“O que a gente tem conversado
com as pessoas em geral é uma insatisfação em ter que escolher outras propostas
que já fracassaram. Então tem uma larga avenida para qualquer outro projeto. Eu
tenho conversado com outros candidatos, potenciais candidatos que também estão
se apresentando, e há uma possibilidade mais à frente ou em qualquer momento de
uma aglutinação”, disse, em entrevista online.
Ex-juiz da Lava Jato e
ex-ministro da Justiça e Segurança Pública do atual governo, Moro afirmou que a
união já deveria ter ocorrido e que Lula e Bolsonaro –que lideram as pesquisas
de intenção de voto– são candidatos que, segundo ele, jogam com a mentira e a
destruição de reputações alheias.
Ele disse ter “potencial para
vencer os extremos”, mas admitiu que poderia abrir mão se houver um projeto
convergente que estiver à frente dele nas pesquisas.
“Eu não tenho uma ambição
pessoal que eu colocaria na frente do país. Agora, o que as pesquisas revelam,
é que o meu projeto está em terceiro desde que a gente lançou o meu nome,
colocou o meu nome à disposição em novembro”, destacou.
Moro minimizou o fato de
apresentar praticamente os mesmos índices de intenção de voto nas pesquisas
eleitorais desde novembro passado, quando se filiou ao Podemos e anunciou sua
pré-candidatura.
“A campanha ainda nem começou,
ainda estamos na fase de pré-campanha, de estruturar o projeto”, disse,
acrescentando que prepara propostas para as áreas de economia, justiça, saúde e
cultura para apresentar um “sólido projeto” e percorrer o país inteiro discutindo-o.
Para Moro, não há um
“cronograma exato” para a evolução nas pesquisas. “A gente tem expectativa de
que o crescimento seja natural, mas não tem nenhuma ansiedade e preocupação de
ganhar a eleição em março”, ironizou.
Dizendo-se um candidato de
centro, Moro negou ter como foco de campanha tirar votos de Bolsonaro. Em vez
disso, disse, querer atrair eleitores de ambos os campos.
“No fundo, o Brasil merece
algo melhor do que isso. A gente precisa apresentar projeto, a gente precisa
discutir esse projeto e a gente precisa apresentar como que a gente constrói um
Brasil que volta a crescer. Quem tem credibilidade para fazer isso. Ou vale a
pena insistir nos erros do passado ou nos erros do presente?”, observou.
Moro defendeu a necessidade de
o país retomar a confiança perdida em razão do que considera erros na gestão da
política econômica e da insegurança decorrente da instabilidade política.
Para ele, ainda há uma grande
demanda social que precisa ser enfrentada, com responsabilidade fiscal, para se
reduzir a relação dívida/PIB de forma a sair do descontrole inflacionário e
levar à redução da taxa de juros.
Na avaliação do ex-juiz,
somente gerando condições favoráveis é que ocorrerão investimentos externos e
internos no país. Para isso, defende a aprovação das reformas tributária –para
alterar o atual sistema complexo e anticompetitivo que incentiva a guerra fiscal–
e a administrativa –para se garantir serviços públicos de qualidade e adequar o
tamanho do Estado. O Congresso já tem projetos em tramitação para essas duas
reformas.
O pré-candidato destacou que a
agenda de privatizações não pode ser um tabu, citando empresas como o Banco do
Brasil, a Eletrobrás, a Caixa Econômica e a Petrobras. Defendeu que o tema seja
abordado pelo ângulo do aumento da eficiência e não sob a ótica ideológica.
“Temos que buscar o modelo
para não correr o risco de substituir o monopólio estatal por privado”,
alertou.
No caso da Petrobras,
ressaltou seu papel fundamental para o país e o fato de a empresa configurar
como orgulho nacional, mas ponderou que é necessário discutir o uso e a
sustentabilidade do combustível fóssil.
Moro afirmou que ainda terá
como propostas, dentro de um pacote de medidas no campo ético e político, o fim
da reeleição para cargos do Executivo já em 2023, fim do foro privilegiado,
inclusive para presidente da República, e a volta da execução da pena para
condenados em segunda instância, além do mandato fixo para diretor-geral da
Polícia Federal.
O ex-juiz da Lava Jato disse
que a operação virou um orgulho nacional, impedindo que se “quebrasse” a
Petrobras. Lembrou da recuperação de 6 bilhões de reais desviados da estatal e
argumentou que a investigação mudou a tradição de impunidade no país.
Moro defendeu avanços
decorrentes da Lava Jato, e avaliou que reações do sistema político e decisões
de “parte do Supremo” acabaram enfraquecendo o combate à corrupção no Brasil.
Não deixou de citar o envio de casos da Justiça Federal para a Eleitoral e a
anulação da condenação de Lula.
“Ninguém diz no mérito que o
Lula é inocente, sequer o STF. A anulação foi por motivos meramente formais”,
disse, ao destacar o que para ele é o retorno de não se agir contra ricos e
poderosos.
Moro, por outro lado, foi
considerado pelo Supremo parcial no julgamento de Lula sobre o triplex,
suspeição essa que posteriormente foi estendida a outros processos contra o
petista.
O ex-juiz rebateu a apuração
do Tribunal de Contas da União sobre a consultoria que prestou após ter deixado
o governo Bolsonaro, ainda em 2020. Segundo ele, jamais teve qualquer relação
financeira ou de trabalho com empresas da Lava Jato e o procedimento, a seu
juízo, tem indícios de ser “absolutamente ilegal” e de estar sendo utilizada de
forma política.
“Não cabe ao TCU investigar
relações privadas”, afirmou. “Não tenho qualquer receio em relação a isso”,
reforçou ele, ao considerar que o caso será arquivado.
(Reuters)
Quarta-feira, 23 de fevereiro 2022
às 19:06