Aplicativo monitora SMS, chamadas e localização de smartphone
Android.
Uso sem consentimento fere leis de privacidade e 'lei Carolina Dieckman'.
O
aplicativo “Rastreador de namorado”, vem chamando a atenção de curiosos e
ciumentos ao permitir que ligações, mensagens de texto e a localização de
smartphones com o sistema Android sejam acompanhadas em detalhes, por outro
celular.
Conforme
um teste realizado pelo G1,
na sexta-feira (16/8) basta instalar o aplicativo em um smartphone Android e
cadastrar o número do celular “rastreador” para acompanhar praticamente toda a
atividade do aparelho.
Ao
enviar mensagens de texto com sequências de números ao aparelho rastreado, o
aplicativo reconhece os comandos e responde às mensagens com informações como
detalhes de torpedos enviados pelo smartphone, incluindo o número de destino e
o conteúdo da mensagem, a localização do aparelho – se o GPS estiver ativado –
e se o smartphone está ligado ou em “Modo Avião”.
Outro
comando por SMS faz com que o aparelho realize uma chamada de voz para o número
cadastrado e permite que o som do ambiente seja ouvido.
INVASÃO DE PRIVACIDADE
Para o advogado especialista em direito digital, Victor Haikal, sócio do
escritório Patrícia Peck Pinheiro Advogados, o fato de o aplicativo existir não
é ilegal. “Da mesma forma que isso pode ser entendido como invasão de
privacidade pelo namorado, se esse aplicativo estiver instalado por um
funcionário de uma transportadora não poderia ser considerado crime”, afirma o
especialista em direito digital. No entanto, segundo ele, o uso do app sem
consentimento de quem está sendo rastreado fere leis de privacidade, incluindo
a lei
12.737 de 2012, a chamada de “Lei Carolina Dieckman”, que entrou em vigor
em abril.
“Se
o namorado não consente a instalação do aplicativo, principalmente se a
conversa telefônica for escutada e se o conteúdo da mensagem de texto for lido,
isso pode ser enquadrado no crime de interceptação telefônica previsto na Lei
9296/1996”, diz Haikal. A infração, segundo ele, é passível de pena de reclusão
de dois a quatros e multa.
Já
o registro de duração e horário de chamadas telefônicas, de envio de mensagens
de SMS é uma violação de privacidade passível de indenização “sem dúvida
alguma”, afirma.
Conforme
explica Haikal, a “Lei Carolina Dieckman” pode enquadrar a pessoa que
desbloqueou um aparelho protegido por senha, sem consentimento, para instalar o
aplicativo e monitorar os dados. Neste caso, a infração fere o Artigo 154 A do
Código Penal, que prevê pena de reclusão de seis meses a dois anos.
Embora
não seja ilegal, o aplicativo corre o risco de ser banido, segundo o advogado,
“se o Ministério Público federal determinar que houve intenção de promover um
crime.”
'MODO ESCONDIDO'
Criado pelos programadores Danilo Neves Cruz, de São Paulo, e Matheus Grijó, de
Santos, no litoral paulista, o ‘Rastreador de Namorado’ atendeu a pedidos.
“Algumas amigas dele [Grijó] pediram para usar o aplicativo para rastrear o namorado.
Inicialmente ele desenvolveu uma primeira versão e me chamou para incluirmos
novas funcionalidades e melhorarmos. Trabalhamos mais ou menos um mês nisso e
lançamos essa nova versão há mais ou menos uma semana”, conta Cruz ao G1.
“É importante ressaltar que a gente recomenda que o aplicativo seja instalado
com o consentimento do namorado ou namorada. A gente somente fornece uma
ferramenta. Cada um usa como quiser", observa o programador quando
questionado sobre o aspecto legal do aplicativo.
A
primeira versão, lançada em junho, foi bloqueada há cerca de duas semanas,
quando alcançou 100 mil downloads, “porque tinha um modo escondido e infringia
as regras de privacidade do Google Play”, diz o programador. “Hoje, se a pessoa
entra em contato por e-mail nós oferecemos o modo escondido ao custo de R$ 5 ao
mês”, afirma.
Inicialmente,
o smartphone rastreado também recebe mensagens sobre suas atividades, mas o app
permite que essas notificações sejam desabilitadas e que somente o rastreador
receba as informações. “Mesmo desabilitando as notificações o aparelho pode
vibrar, mas responsabilidade é de quem fez isso”, observa Cruz.
Até
ontem, segundo Cruz, a nova versão do aplicativo havia registrado 10 mil
downloads. Segundo ele, o perfil de usuários está equilibrado entre homens e
mulheres. “A gente direcionou o app para o público feminino, mas ele também
serve para casais [ambos podem instalar o app], ou se um pai quiser usar para
rastrear um filho, por exemplo”, diz o programador.
Cruz
afirma que o 'Rastreador de Namorado' não poderá ser instalado em dispositivos
em iPhones, mas que estuda com Grijó a viabilidade de criar uma versão para
Windows Phone, futuramente. “No iOS é impossível fazer o aplicativo porque no
iPhone é impossível um aplicativo ler um SMS que chegou, o fazer certas ações
quando não está em primeiro plano”, explica.
Fonte:G1
Sábado 17 de agosto