A saída de Sergio Moro do Ministério da
Justiça não surpreende os que conhecem o desapego do ex-juiz da Lava Jato com o
poder e de sua intransigência contra os malfeitos. Ao demitir o diretor-geral,
Maurício Valeixo, de forma sorrateira, Bolsonaro queria deixar a PF de joelhos
às suas inescrupulosas intenções de dominar a instituição, obrigando-a a tapar os
olhos para as falcatruas cometidas por seus filhos milicianos e por seu
manifestado desejo de manipular a PF para atingir seus obscuros objetivos de
poder.
Moro
revelou, em seu pedido de demissão, que Bolsonaro quer transformar a PF numa
central de arapongagem, um núcleo de espionagem para perseguir inimigos e
proteger a si e a seus nefastos filhos. Os brasileiros do bem, como Moro, não
podem compactuar com tamanha ousadia, sobretudo a partir da manifesta intenção
do presidente de incitar seus malignos seguidores a atos antidemocráticos e
ilegais, como os protagonizados na semana passada, em que pediram a intervenção
militar, a volta do AI-5 e o fechamento do Congresso e do STF.
A
sociedade, os partidos políticos, a direção da Câmara, em especial, e o Poder
Judiciário não podem permitir tamanho retrocesso, que agora, com a saída de
Moro, torna-se uma ameaça real. O Estado de Direito corre perigo e a democracia
brasileira nunca esteve tão ameaçada como agora. Talvez seja a maior ameaça
desde de 1964. Ou as instituições que desejam preservar a democracia se
organizam para retirar Bolsonaro do poder já ou ele continuará insistindo na
sua tese ditatorial de golpear o Estado de Direito e as instituições, conforme
Moro acaba de revelar.
Ficou
clara na fala de Moro nesta sexta-feira que Bolsonaro comete mais um crime de
responsabilidade ao explicitar que deseja de fato instrumentalizar a PF e o
governo para defender bandidos e os seus próprios interesses escusos. Moro,
portanto, fez a coisa certa, ao expor mais essa insanidade do presidente.
O
Brasil fica ainda mais credor do ex-juiz. Primeiro por moralizar a política,
colocando na cadeia os marginais que atacaram os cofres públicos e agora
tirando a máscara de Bolsonaro. O pior é, a partir da saída de Moro, Bolsonaro
vai se encorajar a demitir todos os ministros competentes, como já havia
acontecido com Mandetta.
O
próximo deve ser Paulo Guedes. Bolsonaro cerca-se cada vez mais dos militares,
passando a mensagem de que pode dar um autogolpe, sustentado pela caserna.
Portanto, se a sociedade não conseguir se mobilizar neste momento para afastar
Bolsonaro do poder já, fatalmente corremos o risco de mergulhar em mais um
período de trevas.
É
fato que mais um impeachment neste momento de pandemia seria doloroso para o
País, mas a democracia precisa estar acima de tudo. Só quem viveu a ditadura
dos militares sabe avaliar o que o povo sofre com a perda de direitos
democráticos. Ou então teremos que aguentar mais três anos até as próximas
eleições, quando certamente o nome de Sergio Moro estará na cédula eleitoral.
*IstoÉ
Sexta-feira,
24 de Abril, 2020 ás 20:00
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