Sergio Moro se filiou ao
Podemos na quarta-feira (10/11), em Brasília, com direito a cerimônia e
discurso de presidenciável. Apesar de declarar que "nunca foi
político", o ex-juíz sinalizou que pode ser candidato em 2022 e alfinetou
o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), ao citar 'rachadinhas', e o
ex-presidente Lula, referindo-se ao 'mensalão'.
"É um projeto para termos
um governo de leis que age em benefício de todos e não apenas de alguns. Chega
de corrupção, chega de mensalão, chega de petrolão, chega de rachadinha. Chega
de querer levar vantagem em tudo e enganar a população."
Moro ainda disse que
"pretende fazer o justo com todos" e que jamais usaria o Brasil
"para ganho pessoal". O ex-ministro da Justiça do governo Bolsonaro
recentemente viu o Supremo Tribunal Federal (STF) estender sua suspeição para
todos os processos em que ele atuou contra Lula na 13ª Vara Federal de
Curitiba. Dessa forma, os processos que julgou voltaram à estaca zero.
"Vocês sabem que podem
confiar que eu sempre vou fazer a coisa certa. Ninguém irá roubar o futuro do
povo brasileiro. Estou, portanto, recomeçando hoje, à disposição de vocês, por
um Brasil justo para todos", discursou Moro, em Brasília.
Confira a íntegra do discurso
“Bom dia. Quero agradecer a
todos vocês que vieram, gentilmente, de longe ou de perto, para prestigiar este
evento. Aos filiados do podemos, aos filiados de outros partidos políticos,
senadores, deputados, prefeitos, vereadores, servidores públicos e cidadãos em
geral. Agradeço também aos empresários e trabalhadores aqui presentes. Sei que
muita gente veio de lugares distantes e com sacrifícios.
Eu confesso que estou um pouco
ansioso quanto a falar hoje neste palco. Não tenho uma carreira política e não
sou treinado em discursos. Alguns até dizem que não sou eloquente e não gostam
da minha voz…
Mas, se eventualmente eu não
sou a melhor pessoa para discursar, posso assegurar que sou alguém em que vocês
podem confiar. A vida pública me testou mais de uma vez, como juiz da Lava Jato
e como ministro da Justiça. Vocês conhecem a minha história e sabem que tomei
decisões difíceis e que nunca recuei do desafio, nem repudiei meus princípios
para alimentar ambições pessoais. Por isso, peço atenção às minhas palavras,
muito além da minha voz. O Brasil não precisa de líderes que tenham voz bonita.
O Brasil precisa de líderes que ouçam e atendam a voz do povo brasileiro.
Quero contar para vocês um
pouco sobre minha história. Eu nunca fui um político. Fui juiz por 22 anos e me
dediquei a fazer justiça aplicando a lei. Meu propósito sempre foi ser justo
com todos. Julguei casos de pessoas necessitadas, que procuravam a Justiça por
amparo assistencial.
Depois, na área criminal,
julguei processos de grandes traficantes de drogas, de ladrões de banco e de
pessoas que pagaram ou receberam suborno. Tudo para proteger as pessoas, as
vítimas e o povo brasileiro.
Fui juiz dos casos da operação
Lava Jato em Curitiba. Foi um momento histórico: quebramos a impunidade da
grande corrupção de uma forma e com números sem precedentes. Julgamos e
condenamos pessoas poderosas do mundo dos negócios e da política que, pela
primeira vez, pagaram por seus crimes.
Mais de R$ 4 bilhões foram
recuperados dos criminosos e tem uns R$ 10 bilhões previstos ainda para serem
devolvidos. Isso nunca aconteceu antes no Brasil.
Eu sempre fui considerado um
juiz firme e fiz justiça na forma da Lei. Na época, todos diziam que era
impossível fazer isso, mas nós fizemos. Claro, com grande apoio da população
brasileira. Juntos, eu, você, nós, mostramos que a Lei se aplica a todos.
Em 2018, recebi um convite do
presidente eleito para ser ministro da Justiça. Como todo bom brasileiro, eu
tinha, em 2018, esperança por dias melhores. Como todo brasileiro, eu pensava
no que havíamos presenciado nos últimos anos: os grandes casos de corrupção
sendo revelados dia após dia, os pixulecos, as contas na suíça e milhões de
reais ou dólares roubados.
A Petrobrás foi saqueada, dia
e noite, por interesses políticos, como ‘nunca antes na história deste País’.
Apartamentos forrados de dinheiro roubado em espécie, e uma persistente
recessão provocada pelos mesmos governos que permitiram tudo isso, com as
pessoas comuns desempregadas e empobrecendo.
Era um momento que exigia
mudança. Eu, como juiz da Lava Jato me sentia no dever de ajudar. Havia pelo
menos uma chance de dar certo e eu não podia me omitir: aceitei o convite e
ingressei no governo. O meu objetivo era melhorar a vida das pessoas por meio
de um trabalho técnico, principalmente, reduzindo a corrupção e outros crimes.
Conseguimos de fato, em 2019,
diminuir a criminalidade violenta e enfrentamos para valer o crime organizado.
Cerca de dez mil vidas brasileiras deixaram de ser ceifadas pelo crime neste
meu primeiro ano como ministro da justiça.
Combatemos, com afinco, o
crime organizado. Isolamos, por exemplo, em presídios federais as lideranças
das gangues mais perigosas do país. Ninguém combateu o crime organizado de
forma mais vigorosa do que o ministério da Justiça na nossa gestão. Até quem
não gosta de mim reconhece isso. Disseram que reduzir crimes no Brasil e
combater o crime organizado era impossível, mas isso foi feito.
O meu desejo era continuar
atuando, como ministro, em favor dos brasileiros. Infelizmente, não pude
prosseguir no governo. Quando aceitei o cargo, não o fiz por poder ou
prestígio. Eu acreditava em uma missão. Queria combater a corrupção, mas, para
isso, eu precisava do apoio do governo e esse apoio me foi negado.
Quando vi meu trabalho
boicotado e quando foi quebrada a promessa de que o governo combateria a
corrupção, sem proteger quem quer que seja, continuar como ministro seria
apenas uma farsa. Nunca renunciarei aos meus princípios e ao compromisso com o
povo brasileiro. Nenhum cargo vale a sua alma.
Depois que saí do governo,
precisei, então, como a maioria do povo brasileiro, buscar um emprego a fim de
ganhar a vida. Eu precisava trabalhar, nunca enriqueci sendo juiz ou ministro.
Tenho família para cuidar.
Recebi um convite para
trabalhar no exterior e aceitei. Eu acreditei que ficar longe por um tempo me
ajudaria a refletir melhor sobre o Brasil. Estava cuidando de minha vida
privada, distante dos olhos do público e da imprensa. Mas via com extrema
preocupação o desdobrar dos fatos desde a minha saída do governo. Mesmo fora do
País, nunca deixei o Brasil longe de meu coração.
Estamos no final de uma
pandemia que afligiu o mundo e só no Brasil deixou mais de 600 mil vítimas. Vi
consternado o crescer do número de vítimas e a desolação das famílias. Não há
um brasileiro ou brasileira que não tenha perdido alguma pessoa querida, um
parente ou um amigo.
Não há um verdadeiro
brasileiro ou brasileira que não tenha se emocionado com essas perdas. Registro
meu pesar por todas as vítimas e por aqueles que sofreram com a perda delas.
Aproveito para endereçar minhas homenagens aos médicos, enfermeiros e
cientistas, que foram os verdadeiros heróis. Muitos colocaram a sua vida em
risco para salvar a de outros. Eles também mostraram o valor da ciência e do
nosso sistema único de saúde.
Junto com a pandemia, vimos
com tristeza outros flagelos. Escolas sem aulas por falta de estrutura.
Empregos e negócios sendo perdidos. Mercados, padarias e restaurantes de portas
fechadas. A pobreza e a fome sendo espalhadas. Pais e mães com dificuldades
para cuidar de seus filhos. O jovem e o idoso, esperançosos por conseguir um
trabalho, encontrando ao revés o desemprego.
Como se não bastasse, mesmo
com o fim próximo da pandemia, a economia não vai bem. As pessoas ainda estão
sofrendo. Há brasileiros passando fome. Isso dói em todos nós. A inflação está
muito alta: os técnicos falam em um número, mas quem vai no posto de gasolina
ou na mercearia sabe que é muito mais.
Os juros subiram, dificultando
ainda mais a vida do empresário, do agricultor ou das pessoas comuns. E os
juros ainda vão subir neste governo e isso vai tornar a vida das pessoas ainda
mais difícil. Não falo por ser pessimista, mas porque o país está indo para o
rumo errado. Como exemplo, é só olhar o número elevado de pessoas desempregadas
e há quanto tempo as coisas estão assim. Desde a época do governo do PT, o
desemprego começou a crescer e não parou mais: Atualmente são 14 milhões de
desempregados, sem contar aqueles que já desistiram de procurar empregos… e sem
perspectivas de melhorar.
Ao mesmo tempo, os avanços no
combate à corrupção perderam a força. Foram aprovadas medidas que dificultam o
trabalho da polícia, de juízes e de procuradores. É um engano dizer que acabou
a corrupção quando na verdade enfraqueceram as ferramentas para combatê-la.
Quase todo dia ouvimos
notícias de criminosos sendo soltos, normalmente com base em formalismos ou
argumentos que simplesmente não conseguimos entender. O que no fundo a gente
entende é que criminosos poderosos estão escapando impunes de seus crimes e que
a Lei não está valendo para todos.
Fica aquela sensação amarga de
que não existe lei, de que não existe Justiça. Como se a Petrobrás não tivesse
sido saqueada, como se tudo o que foi feito não tivesse valido e como se não
tivessem importância as manifestações de milhões de brasileiros contra a
corrupção em 2015 e 2016.
Desde que me entendo por
gente, ouço as pessoas falarem que o Brasil é um País injusto. Que precisamos
fazer reformas, mexer nas leis para que o país melhore, para que as coisas
comecem a funcionar, para que as pessoas tenham escolas decentes para seus filhos
e hospitais que resolvam seus problemas.
Para que a estrada cheia de
buracos seja asfaltada, para que as pessoas possam andar com segurança na rua.
Mas as reformas nunca chegam ou quando chegam são malfeitas. E o Brasil fica
sendo esse País do futuro e nós nos perguntamos: quando vai chegar o futuro do
País do futuro?
E, ao olharmos para as
reformas que estão sendo aprovadas, o que a gente percebe é que ninguém está
pensando nas pessoas. Mesmo quando se quer uma coisa boa, como esse aumento do
Auxílio-Brasil ou do Bolsa-Família, que são importantes para combater a
pobreza, vem algum coisa ruim junto, como o calote de dívidas, o furo no teto
de gastos e o aumento de recursos para outras coisas que não são prioridades.
Quando o governo resolve
vender uma empresa estatal como a Eletrobrás, aprova junto uma série de
jabutis, coisas que ninguém entende direito, mas que na prática todo mundo sabe
que significa que a conta de luz vai ficar mais cara para alguém ganhar mais
dinheiro.
E aí o governo gasta mais do
que pode e lá vem mais inflação e mais juros. E assim o País não cresce e não
se vê emprego. E, com tudo isso, as pessoas passam a acreditar que não há
governo, que não há futuro, que estamos sozinhos e que tudo é inútil.
Meu amigo e minha amiga, todas
essas coisas estão relacionadas: se o Brasil está parado e não vai adiante, não
é porque não sabemos o que precisamos fazer. Ninguém tem dúvida de que
precisamos melhorar a vida das pessoas. Todo mundo também sabe que quem desvia
dinheiro público tem que ser punido e não premiado.
Todo mundo sabe que o dinheiro
desviado é o hospital e a escola sucateadas. O problema é que não conseguimos
fazer o que sabemos que precisamos fazer, porque as estruturas do poder foram
capturadas. Elas passaram a servir a si mesmas e já não servem ao povo.
Parte disso é corrupção, como
a que vimos e nos assustou na Lava Jato. Mas outra parte é a degeneração maior
da vida política: a busca do interesse público foi substituída pela busca
egoísta dos interesses próprios e dos interesses pessoais e partidários. É a
máquina pública voltada para si mesma. Isso explica por que o Brasil continua
sem futuro, com o povo brasileiro sem justiça, sem emprego e sem comida.
Eu sonhava que o sistema
político iria se corrigir após a Lava Jato. Que a corrupção passaria a ser
coisa do passado e que o interesse da população seria colocado em primeiro
lugar. Isso não aconteceu, infelizmente. E embora tenha muita gente boa na
política, nós não vemos grandes avanços.
Após um ano morando fora, eu resolvi
voltar. Não podia ficar quieto, sem falar o que penso, sem pelo menos tentar
mais uma vez, com você, ajudar o país. Então resolvi fazer do jeito que me
restava: entrando para a política, corrigindo isso de dentro para fora.
A gota d’água para mim foi
encontrar um estudante brasileiro no exterior que me perguntou “Moro, é verdade
que você abandonou o Brasil?”. Aquilo foi como um tiro no meu coração. Eu não
poderia e nunca vou abandonar o Brasil.
Se necessário, eu lutaria sozinho pelo Brasil
e pela Justiça. Seria Davi contra Golias. Mas, ao ver esse auditório, tenho
certeza que não estou sozinho.
Tenho essa mesma certeza
quando eu encontro as pessoas nas ruas, nos mercados, nas escolas, em qualquer
lugar, e elas estão com um sorriso no rosto, me cumprimentam ou elogiam pelo
trabalho que foi feito na Lava Jato ou no Ministério da Justiça. Então, voltei
ao Brasil para ajudar a construir um projeto que é de muitos.
Nenhuma pessoa pode ter um
projeto só para si mesmo. Ninguém existe só para si mesmo. Para isso, resolvi
entrar na vida política e filiar-me ao podemos, um partido que apoia as pautas
da Lava Jato. Mas esse não é o projeto somente de um partido, é um projeto de
País aberto para adesão por todos os demais partidos, pela sociedade brasileira,
do empresário ao trabalhador, por todo cidadão e cidadã brasileiros. É o seu
projeto, que estava aí, aguardando o momento certo. Chegou a hora.
Queremos construir juntos esse
projeto, ouvindo as ideias de todos. Não é só um projeto para reconstruir o
combate à corrupção. Isso faz parte dele, mas ele vai muito além. É um projeto
para construir o País. É um projeto de reconstrução de todos os sonhos
perdidos. Nesse projeto, não há espaço para o medo, não há espaço para reações
agressivas, mas também não há espaço para timidez. Queremos juntos construir
hoje o Brasil do futuro.
Quero compartilhar algumas
ideias que tenho para esse projeto. Alerto que são ainda apenas algumas ideias
de um projeto maior e que será formulado junto com os brasileiros e as
brasileiras. Tenho ouvido especialistas, mas queremos ouvir todo mundo sobre
ele.
Precisamos recuperar a ideia
de que vivemos e dividimos o mesmo País, de que somos todos irmãos, amigos e
vizinhos. Podemos até divergir em alguns assuntos, mas temos, como brasileiros,
mais pontos em comum do que diferenças. Então nosso projeto é forte, é
vigoroso, mas não é agressivo.
Nossas únicas armas serão a
verdade, a ciência e a justiça. Trataremos a todos com caridade e sem malícia.
Respeitaremos aqueles que gostam e aqueles que não gostam de nós. O Brasil é de
todos os brasileiros e nosso caminho jamais será o da mentira, das verdades
alternativas ou de fomentar divisões ou agressões de brasileiro contra
brasileiro.
Incluo aqui nessa atitude de
respeito e generosidade, a imprensa. Chega de ofender ou intimidar jornalistas.
Eles são essenciais para o bom funcionamento da democracia e agem como
vigilantes de malfeitos dos detentores do poder. A liberdade de imprensa deve
ser ampla. Jamais iremos estimular agressões. Jamais iremos propor o controle
sobre a imprensa, social ou qualquer que seja o nome com que se queira
disfarçar a censura e o controle do conteúdo. Isso vale para mim e para
qualquer pessoa que queira nos apoiar.
Precisamos proteger a família
brasileira contra a violência, contra a desagregação e contra as drogas que
ameaçam nossas crianças, jovens e adultos. Propomos incentivar a virtude e não
o vício, uma sólida formação moral e cidadã. Nosso projeto de redução da
criminalidade violenta, do combate ao crime organizado e ao tráfico de drogas
precisa ser retomado com todo o vigor, sempre na forma da Lei, e buscando
recuperar aqueles que se desviaram do bom caminho.
Mas agiremos sempre com a
compreensão de que nessa nossa sociedade cada vez mais plural todos merecem ser
tratados com respeito e sem qualquer forma de discriminação. Precisamos de uma
sociedade inclusiva, que acolha as diferenças, e precisamos também de uma
sociedade que respeite todas as crenças e religiões.
Nessa sociedade inclusiva,
merecem especial atenção as pessoas com deficiência e as pessoas com doenças
raras. Aprendi a admirá-las por meio de minha esposa, Rosângela, com quem sou
casado há 22 dois anos e tenho dois filhos. Minha esposa é advogada e atende
pessoas com deficiência, pessoas com doenças raras e igualmente associações que
promovem os direitos delas. Ela me despertou quanto à importância da adoção de
políticas que atendam a essas pessoas em suas necessidades específicas e que
permitam que seus talentos e habilidades possam florescer.
Acreditamos na capacidade
empreendedora e inovadora de cada brasileiro. Todo cidadão tem o potencial de
se tornar uma versão melhor de si mesmo. E, quero lhe dizer, esta é minha
crença fundamental, que cada indivíduo tem a sua dignidade e tem a capacidade
de se aprimorar continuamente.
Por acreditarmos no potencial
de cada um, defendemos o livre mercado, a livre empresa e a livre iniciativa,
sem que o governo tenha que interferir em todos os aspectos da vida das
pessoas. Precisamos reformar nosso sistema confuso de impostos. Há quanto tempo
falamos nisso sem fazer? Precisamos privatizar estatais ineficientes.
Precisamos abrir e modernizar nossa economia buscando mercados externos. O
tempo é de inovação e não podemos ficar para trás nesse mundo cada vez mais
dinâmico e competitivo.
Mas nesse país que
compartilhamos, o nosso senso de comunidade impede que adotemos um capitalismo
cego, sem solidariedade ou compaixão. O nosso senso de justiça, os nossos
valores cristãos e que são compartilhados pelas outras religiões, exigem que as
grandes desigualdades econômicas sejam superadas.
Uma das prioridades do nosso
projeto será erradicar a pobreza, acabar de vez com a miséria. Isso já deveria
ter sido feito anos atrás. Para tanto, precisamos mais do que programas de
transferência de renda como o Bolsa-Família ou o Auxílio-Brasil. Precisamos
identificar o que cada pessoa necessita para sair da pobreza.
Isso muitas vezes pode ser uma
vaga no ensino, um tratamento de saúde ou uma oportunidade de trabalho. As
pessoas querem trabalhar e gerar seu próprio sustento. Precisamos atender a
essas carências com atenção específica. E, como medida prioritária, sugerimos a
primeira operação especial: a criação da Força-Tarefa de Erradicação da
Pobreza, convocando servidores e especialistas das estruturas já existentes.
Ela será uma força-tarefa
permanente e atuará como uma agência independente e sem interesses eleitoreiros,
com a missão de erradicar a pobreza no país. Muita gente pensa que isso é
impossível, como diziam que era impossível combater a corrupção. Não é, e nem
precisa destruir o teto de gastos ou a responsabilidade fiscal para fazê-lo.
Nós podemos erradicar a pobreza e esse é o desafio da nossa geração.
Propomos investir na educação
de qualidade. Quem vai para a escola pública tem que encontrar ensino da mesma
qualidade que o das escolas privadas. Eu, menino crescido no interior do
Paraná, na minha querida Maringá, fiz tanto escola pública como privada.
Na minha época, a qualidade de
ensino era parecida, então é possível fazer com que seja de novo. O futuro do
Brasil depende do presente da educação pública e privada. Queremos trazer os
pais para participarem mais da vida das escolas. Queremos incentivar a inovação
e a dedicação dos professores, cobrar metas e desempenho, premiar os bons por
mérito, sem procurar vilões.
Queremos diversificar o ensino
e tornar real em todo o País, o que a lei já autoriza: que os alunos possam
escolher parte das disciplinas e, fazendo isso, estudarem com maior motivação.
Propomos expandir o ensino em período integral. Se isso é custoso e se for
necessário escolher, vamos primeiro para os lugares mais carentes e depois
expandimos. Precisamos de tecnologia e internet nas escolas. É preciso abraçar
essas políticas como um grande programa nacional.
Queremos, como pais e mães,
que nossos filhos e que os filhos de nossos filhos tenham um futuro melhor do
que o nosso e isso depende da educação. A escola deve ser um lugar para matemática,
tecnologia, ciências, cultura e literatura, um lugar de liberdade e de
aprendizado.
Precisamos falar sobre
corrupção. Muitos me aconselharam a não falar sobre o assunto, mas isso é
impossível. Combater a corrupção não é um projeto de vingança ou de punição. É
um projeto de justiça na forma da lei. É impedir que as estruturas de poder
sejam capturadas e dessa forma viabilizar as reformas necessárias para melhorar
a vida das pessoas.
É um projeto para termos um
governo de leis que age em benefício de todos e não apenas de alguns. Chega de
corrupção, chega de mensalão, chega de petrolão, chega de rachadinha. Chega de
querer levar vantagem em tudo e enganar a população.
Propomos, sem mais delongas,
aprovar a volta da execução da condenação criminal em segunda instância, para
que a realização da justiça deixe de ser uma miragem. Precisamos garantir a
independência do Ministério Público, respeitando as listas, e a autonomia da
Polícia com mandatos para os diretores, impedindo que haja interferência política
em seu trabalho.
Propomos ainda a criação de
uma corte nacional anticorrupção, à semelhança do que fizeram outros países,
usando as estruturas já existentes e convocando juízes e servidores
vocacionados para essa tão importante missão.
Precisamos cuidar do futuro e
do que vamos deixar para as novas gerações. O Brasil é um País que
historicamente respeitou e protegeu o meio ambiente. Temos a maior floresta do
mundo, a Amazônia. Infelizmente, alguns veem a floresta como um incômodo e hoje
nossa imagem no exterior é péssima.
Mas a floresta é um patrimônio
valioso e precisamos mudar a percepção do mundo a nosso respeito. Precisamos
dar oportunidades de desenvolvimento para quem vive na região da Amazônia, mas
precisamos proibir o desmatamento e as queimadas ilegais. Promover as ações e
usar as palavras certas, considerando a população local.
O futuro do mundo depende da
preservação do meio ambiente, para prevenir a mudança climática. O Brasil pode
ser não só o celeiro do mundo, com a nossa pujante agricultura, com pequenos e
grandes proprietários, mas também a liderança e o exemplo para o mundo na
preservação da floresta, no fomento da exploração de energias limpas e na
criação de uma economia verde, sustentável e de baixo carbono.
Isso nos trará investimentos e
nos fará orgulhosos de nosso País. Somos detentores dessa enorme riqueza verde
e, infelizmente, fizemos tudo errado nos últimos anos. Isso pode e deve ser
consertado. O Brasil deve ser o líder e o orgulho do mundo na economia verde e
sustentável.
Precisamos cuidar da defesa
nacional e de nossa soberania. Vamos valorizar as Forças Armadas. O militar não
é diferente dos outros. Somos todos brasileiros. Devemos respeitá-las como
instituição de Estado e jamais utilizá-las para promover ambições pessoais ou
interesses eleitorais. As forças armadas pertencem aos brasileiros e não ao
governo.
Para que todo esse projeto
tenha credibilidade, para que possamos demonstrar com sinceridade o nosso
desejo de reconstruir o País e de reformar as instituições, nós precisamos
provar que estamos dispostos a sacrifícios. Que a classe dirigente, que a
classe política, não terá por foco aumentar o seu poder ou seus privilégios, e
que agirá para beneficiar a todos, pensando no bem comum e no interesse
público.
Para tanto, proponho, desde o
início, a eliminação de dois privilégios da classe dirigente. O fim do foro
privilegiado que trata o político ou a autoridade como alguém superior ao
cidadão comum, e o fim da reeleição para cargos no poder executivo. O foro
privilegiado tem blindado políticos e autoridades da apuração de suas
responsabilidades. Não precisamos dele. Eu nunca precisei quando juiz ou
ministro. Não deve existir para ninguém e para nenhum cargo, nem para o
presidente da República.
Quanto à reeleição para cargos
no poder executivo, devemos admitir que é uma experiência que não funcionou em
nosso País. O presidente, assim que eleito, começa, desde o primeiro dia, a se
preocupar mais com a reeleição do que com a população, está em permanente
campanha política. E ainda tem o risco de gerar caudilhos, populistas ou
ditadores, de esquerda ou de direita, pessoas que se iludem com o seu poder e
passam a ser uma ameaça às instituições e à democracia, seja por corrupção ou
por violência. Não devemos mais correr esses riscos.
Entendo que se nós, da classe
política, cortarmos nossos privilégios, daremos um bom exemplo e conseguiremos
a credibilidade necessária para aprovação de outras reformas dirigidas a
melhorar a vida das pessoas. Vamos gerar um ambiente de confiança e um ciclo
virtuoso em favor das reformas, fomentando investimentos, gerando empregos,
recolocando o governo na trilha certa. Ele existe para ajudar as pessoas e não
o contrário. O governo tem que estar a serviço das pessoas e não dos políticos.
Essas são apenas algumas
ideias para o nosso projeto de País. Queremos construí-lo com vocês aqui
presentes, com a sociedade e com o povo brasileiro. Podemos construir juntos um
Brasil justo para todos. Esse não é um projeto pessoal de poder, mas sim um
projeto de País. Nunca tive ambições políticas, quero apenas ajudar.
Se, para tanto, for necessário
assumir a liderança nesse projeto, meu nome sempre estará à disposição do povo
brasileiro. Não fugirei dessa luta, embora saiba que será difícil. Há outros
bons nomes que têm se apresentado para que o País possa escapar dos extremos da
mentira, da corrupção e do retrocesso.
Todos nós sabemos que teremos
em um momento que nos unir para uma tarefa maior do que cada uma das pessoas
envolvidas. Mas precisamos nos unir em torno de um projeto que tenha pelo menos
as seguintes linhas essenciais: combater a corrupção como meio de viabilizar as
reformas, erradicar a pobreza, diminuir as desigualdades, controlar a inflação,
preservar a responsabilidade fiscal, fomentar o emprego e o desenvolvimento
sustentável, prover serviços de saúde, educação e segurança de qualidade,
proteger a família, cultivar as liberdades e o respeito com o próximo e com o
diferente. Tudo está conectado. Todos estamos juntos.
Pretendo atuar como um
guardião vigoroso do interesse público, como um protetor dos direitos de todos
os brasileiros e brasileiras. O Brasil poderá confiar que este filho teu não
fugirá à luta e que jamais deixará o seu interesse pessoal, ou de seus filhos ou
de sua família, ou mesmo de seus amigos ou de seu partido político, acima do
interesse do povo brasileiro.
Jamais usarei o Brasil para
ganho pessoal. Vocês sabem que podem confiar que eu sempre vou fazer a coisa
certa. Ninguém irá roubar o futuro do povo brasileiro. Estou, portanto,
recomeçando hoje, à disposição de vocês, por um Brasil justo para todos. Muito
obrigado.”
Último segundo Ig
Quarta-feira, 10 de novembro
2021 às 15:41