O presidente do Tribunal Superior
Eleitoral (TSE), ministro Gilmar Mendes, acusou o Ministério Público e juízes
da primeira instância de chantagear políticos com ações de improbidade
administrativa. A condenação nesse tipo de ação causa a inelegibilidade, como
prevê a Lei da Ficha Limpa. O comentário foi feito durante a sessão da noite de
terça-feira(18) no TSE, quando uma possível modificação da regra era julgada.
“Promotores e juízes ameaçam parlamentares
com a Lei da Ficha Limpa, essa é a realidade. Alguém com condenação por
improbidade estará inelegível. Temos que temperar a interpretação da lei para
não lastrearmos um abuso de poder. E não querem a lei de abuso de autoridade,
porque praticam às escâncaras o abuso de autoridade. O que se quer é ter o
direito de abusar. Um governador se submete a essa situação vexatória. Ao
empoderarmos determinadas corporações, estamos dando a eles o poder que eles
precisam para fazer esse tipo de chantagem”, disse Gilmar em tom
inflamado.
Nesta terça-feira, 18, o presidente do
Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), defendeu a aprovação do projeto de lei que
trata do abuso de autoridade. Segundo o parlamentar, tal proposta deve ser conjugada
com a reforma política e com novas regras de combate à corrupção. “Acho
que esse aperfeiçoamento, mais do que nunca, se faz necessário no Brasil. Se
fizermos essa conjunção para votarmos tais propostas, estaremos aperfeiçoando o
País e consequentemente suas instituições (…) Entendo que a oportunidade é
conjugar ao mesmo tempo: reforma política, combate à corrupção e lei de abuso
de autoridade”, declarou Renan.
A urgência da tramitação do projeto
tem sido criticada por magistrados e procuradores, que consideram que a
proposta pode enfraquecer o Judiciário e o Ministério Público. Em entrevista ao
jornal O Estado de S.Paulo, em junho, procurador-geral da República, Rodrigo
Janot, disse ser favorável à mudanças na Lei de abuso de autoridade, mas não da
forma como está sendo discutida no Congresso. “Sou, assim, absolutamente
favorável à revisão da Lei de Abuso de Autoridade. Sobre o tema, tramita, hoje,
no Senado, o Projeto de Lei 280/2016, o qual, em tese, deveria cumprir o papel
de atualizar a Lei 4.898/65, mas que, de fato, traz uma sequência de tipos
penais abertos, de constitucionalidade duvidosa, que podem sim inibir
indevidamente a atuação das autoridades no combate à corrupção e à
criminalidade crescente”, afirmou Janot.
Ao jornal O Globo, o juiz Sergio Moro,
responsável pela Operação Lava Jato, também fez ressalvas à proposta. “É
muito preocupante. Não que abusos de autoridades não devam ser punidos, ninguém
é contra isso. A proposta inicial talvez fosse positiva, mas a redação atual da
lei, na forma que está colocada, sugere a possibilidade da sua utilização para
intimidação de juízes, procuradores e autoridades policiais, não por praticarem
abusos, mas por cumprirem seu dever com independência em processos envolvendo
figuras poderosas”, comentou Moro.
Quarta-feira, 19 de outubro, 2016
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