Eleito pela sexta vez para
presidir o Conselho de Ética do Senado, João Alberto Souza (PMDB-MA) disse não
sentir, no pedido de cassação do mandato de Aécio Neves (PSDB-MG), o mesmo
"clima de pressão" que houve, por exemplo, com Delcídio Amaral (ex-PT-MS),
cassado no ano passado.
"O que eu sinto é que o
Senado não concorda com o afastamento do senador. Isso eu tenho visto muito.
Eles questionam por que afastar? Por qual argumento?", afirmou Souza.
À reportagem, Souza disse que
ainda não analisou o requerimento da Rede e do PSOL contra o tucano baseado na
delação da JBS, mas declarou que tem "dúvida" sobre o caso.
"Pelo que tenho lido, tenho uma grande dúvida", afirmou o senador,
que vai aguardar análise da Advocacia-Geral do Senado antes de tomar qualquer providência
sobre o pedido.
Nesses seis mandatos no Conselho
de Ética, foram dois senadores cassados (Delcídio Amaral, em 2016, e Demóstenes
Torres, em 2012). É pouco ou muito?
O Senado tinha tradição de nunca
cassar senador. Mesmo quando o (ex-senador) Anon de Mello (pai do senador
Fernando Collor) matou um outro senador no plenário, ele não foi cassado (o
fato ocorreu em 1963). O primeiro senador a ser cassado foi o Luiz Estevão, em
1999. Na época disseram que aquela decisão iria "abrir a porteira".
Depois tivemos vários outros problemas que ocasionaram a renúncia antes da
cassação: José Roberto Arruda, Jader Barbalho, Antônio Carlos Magalhães,
Joaquim Roriz. Após uma decisão do conselho, você não pode renunciar. Pode, mas
perde os direitos políticos. Então, o cuidado que nós temos é que vem muita
coisa para o conselho baseada em recorte de jornal Eu quero ver o que tem de
verdade.
Vê semelhanças do caso de Delcídio com o de Aécio?
Eu não vi ainda. Vou ler, ver o
que tem. De início, pelo que tenho lido, tenho uma grande dúvida. O tribunal
(Supremo Tribunal Federal) decidiu o afastar. Mas e se amanhã o tribunal
disser: "Não há nada contra o Aécio?" E estando perto aqui de uma
cassação. Baseado em quê? É preciso ter cuidado. Não podemos ser açodados.
Há áudios de conversas de Aécio
em que ele, segundo a Procuradoria-Geral da República, pede propina ao
empresário Joesley Batista. Isso pode ser considerado indício suficiente?
Primeiro é preciso saber se os
áudios são verdadeiros. Porque o senador recorreu. Preciso antes permitir que
ele se defenda para ver o que vou fazer. Ele alega que foi armação.
O clima é de quê? Absolvição?
Não tem clima de apelação. Não
tem nada, nada. Nenhum senador falou comigo. Nos outros processos aqui, todos
os outros senadores se envolviam, conversavam muito. Nesse processo do Aécio,
eu garanto que quem tem provocado sou eu. Já conversei pessoalmente com o
Antonio Anastasia (PSDB-MG) e já telefonei para a Simone Tebet (PMDB-MS), que
são juristas. É o tipo do processo, esse do Aécio, que (a pressão) é mais da
parte de fora que de dentro do Senado. O que eu sinto é que o Senado não
concorda com o afastamento do senador. Eles questionam por que afastar? Por
qual argumento? Tenho a impressão de que, se não tivesse isso, talvez os senadores
pressionassem para que o conselho avançasse. Como é que se afasta um senador?
Há alguma movimentação no Senado para reverter o afastamento?
Não sei o que vai acontecer. Há
um sentimento da Casa muito ruim a esse respeito. Agora mesmo estava conversando
com um senador e a revolta dele é muito grande. Não pode. (AE)
Sexta-feira, 9 de Junho, 2017 as 10hs00
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