Ronaldo
Caiado traz de volta o coronelismo exercido por sua família no passado, impondo
censura à imprensa, perseguindo adversários e nomeando dezenas de parentes para
cargos públicos
Desde
que assumiu o governo de Goiás há um ano, Ronaldo Caiado (DEM) tem demonstrado
ser realmente o legítimo herdeiro do coronelismo exercido por sua família desde
o início do século passado, quando seu avô Antônio Totó Caiado, ex-senador já
falecido, dominava o estado com capangas e mão de ferro. O governador vem
adotando, assim, ações que resgatam o perfil do verdadeiro coronel goiano. Tem
intensificado um processo de perseguição a jornalistas de blogs e sites que o
criticam, praticado o nepotismo explícito ao nomear pelo menos 22 parentes para
importantes funções públicas e implantado intenso toma lá dá cá com deputados
que o apoiam na Assembleia em troca de cargos. Paralelamente promove o desmonte
das políticas sociais deixadas por seu antecessor, o ex-governador Marconi
Perillo (PSDB), com o intuito apenas de apagar seu legado, o que está gerando
um enorme retrocesso político e econômico em Goiás.
A
veia autoritária do governador foi realçada na semana passada quando a polícia
estadual, seguindo orientação do MP local, controlado por ele, comandou uma
operação contra jornalistas independentes de Goiânia que produzem três blogs e
sites — Canal do Gama, Goiás 24h e Blog do Cleuber —, considerados por ele como
de oposição ao seu governo, pelo simples fato de publicarem informações com
críticas a sua administração. O blog Goiás 24h, do jornalista Cristiano Silva,
por exemplo, divulgou, no ano passado, que o governo promoveu um baile funk no
Palácio das Esmeraldas para comemorar o aniversário de sua filha e isso o
tornou alvo da ira de Caiado, que estava na festa ao lado da mulher, Gracinha.
Nessa
operação policial, feita com estardalhaço, os jornalistas foram alvo de busca e
apreensão em suas casas e diversos deles tiveram seus celulares apreendidos,
pois o objetivo é apurar os nomes dos informantes dos jornalistas.
Oficialmente, o processo contra os blogueiros deseja saber se eles foram
favorecidos com verbas de publicidade do estado na gestão do tucano Perillo. Em
três anos, esses blogs receberam R$ 2,5 milhões. No mesmo período, o governo
gastou R$ 300 milhões em publicidade. Ou seja, os valores recebidos por eles
são irrelevantes, mas mesmo assim sofrem a devassa determinada pelo governador.
“Como o veículo de comunicação mais lido de Goiás, não aceitaremos censura dos
poderosos de plantão”, escreveu Cristiano Livramento da Silva em seu site. A
investigação incluiu até mesmo o jornalista João Bosco Bittencourt, ex-assessor
de Perillo, suspeito de subsidiar a imprensa com informações contra Caiado. Ele
considera o ato como “um ataque à liberdade de imprensa”.
“A
única preocupação do governador é perseguir quem ele acredita ter ligações com
Perillo. Caiado passa os dias olhando pelo retrovisor, pedindo investigações
contra o governo anterior, mas nada faz para melhorar a vida da população”, diz
o deputado Tales Barreto, líder do PSDB na Assembleia. Ao mesmo tempo em que
“cria um clima de terrorismo à imprensa” e persegue os adversários, o
governador oferece benesses aos amigos e familiares. Nomeou, sobretudo, tios e
primos para cargos públicos, como é o caso de Ênio Caiado, colocado na
presidência da Goinfra, e Ederval Caiado, como diretor da mesma estatal. Apesar
de dizer que adotaria a nova política, ele loteou cargos públicos para os
deputados que compõem sua base na Assembleia. Isso ficou claro quando cinco
parlamentares, entre eles Humberto Teófilo (PSL) e Eduardo Amado (PV), votaram
contra seus projetos de Previdência estadual e o estatuto do funcionalismo. Caiado
demitiu todos os 90 funcionários indicados por esses deputados para cargos
públicos, como parte da barganha pelo apoio parlamentar.
De
acordo com deputados ouvidos por ISTOÉ, Caiado está tomando medidas para
desmontar os programas sociais deixados pelo PSDB, que governou o estado nos
últimos 20 anos. Entre outras coisas, acabou com o programa de renda cidadã,
que complementava os rendimentos de 90 mil famílias do Bolsa-Família, e
suspendeu o cheque-moradia, que subsidiava os participantes do Minha Casa, Minha
Vida, do governo federal, concedendo-lhes casas totalmente quitadas. “Nós
pegamos o estado com um PIB de R$ 17 bilhões em 1998 e deixamos o governo em
2018 com o PIB em R$ 240 bilhões, mas Caiado quer nos fazer retroceder apenas
para impor a força de seu papel de coronel no estado”, disse Barreto.
Germano Oliveira/ IstoÉ
Sexta-feira,
31 de janeiro, 2020 ás 11:00
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