Sem
alarde, mas com muito empenho, uma parte da ala militar que continua no governo
já trabalha pela candidatura do ministro da Justiça, Sergio Moro, à Presidência
da República em 2022. Esses militares têm certeza de que Moro vai entrar na
disputa pelo Planalto, mesmo que o presidente Jair Bolsonaro concorra à
reeleição.
Nada,
porém, relacionado a Moro será definido de forma precipitada. O ministro sabe
de seu potencial nas urnas, já conversou sobre isso com alguns amigos muito
próximos, mas se convenceu de que ainda é muito cedo para falar do assunto.
Mais: não quer ser visto como traidor. O tempo, acredita ele, será seu aliado.
Entre
os militares que veem Moro como opção para a Presidência da República, alguns
acreditam que Bolsonaro vai se desgastar muito até o início da campanha, porque
não consegue domar sua tendência a gerar polêmicas. Num país com tantos
problemas, o ocupante do Planalto deve optar pela sensatez. Moro está mais
adequado a esse perfil, acreditam.
Outro
ponto importante, segundo os militares: Moro, se candidato e eleito, tenderá a
manter Paulo Guedes no comando do Ministério da Economia. Os dois são muito
próximos, jantam frequentemente em Brasília. Foi Guedes quem intermediou a
aproximação entre Moro e Bolsonaro.
Com
a promessa de Guedes no comando da Economia, ressaltam os militares que
defendem Moro na Presidência, o ex-juiz terá todo o apoio do mercado
financeiro. Há, inclusive, banqueiros trabalhando na mesma direção desses
militares para que o ministro da Justiça se jogue de vez na política.
Todas
as pesquisas de popularidade apontam Moro como o líder mais confiável do país
na atualidade. O único a ter índices mais próximos aos dele é o ex-presidente
Lula, que os militares querem ver pelas costas. Moro sabe que, com esses
indicadores, sai na dianteira de qualquer disputa para o cargo mais importante
do país.
Quem
transita pelo Palácio do Planalto admite que Bolsonaro está consciente da
possibilidade de Moro sair candidato à Presidência da República. Não por acaso,
sempre que possível, o presidente faz questão de dar umas estocadas no
subordinado. A mais recente, e mais pesada, foi a manutenção dos juízes das
garantias no pacote anticrime aprovado pelo Congresso.
Ali,
Moro sentiu o baque, tanto que explicitou publicamente seu descontentamento.
O
ministro da Justiça também se conscientizou de que seu sonho de ser ministro do
Supremo Tribunal Federal (STF) está cada vez mais longe de ser realizado.
Bolsonaro resiste em indicá-lo. A próxima vaga será aberta em novembro, com a
aposentadoria do ministro Celso de Mello.
Bolsonaro
acredita, porém, que pode dobrar Moro, ao tentar convencê-lo a ser vice em sua
chapa à reeleição. O presidente já disse, diversas vezes, que ele e Moro numa
chapa única são imbatíveis. Essa tentativa de tirar proveito da popularidade do
ministro, que é maior do que a do presidente, não sai da cabeça dos aliados de
Bolsonaro que estão se regozijando no poder.
O
presidente conta ainda com a popularidade do ministro para tirar do papel seu
novo partido, a Aliança pelo Brasil, que corre o risco de ficar de fora das
eleições municipais deste ano. Sem candidatos eleitos neste pleito, a sigla
perde força para emplacar nomes fortes nas disputas majoritárias em 2022.
Procurado
pela reportagem, o porta-voz da Presidência, Otávio Rêgo Barros, afirmou que o
governo não difere entre civis e militares entre seus integrantes. Sobre o fato
de uma ala da caserna apoiar uma eventual candidatura de Moro ao Planalto,
Barros diz que o pleito de 2002 não é assunto de maior importância no momento.
“O
presidente Bolsonaro vem acompanhando essas questões da montagem de equipe, e é
com confiança que ele administra junto a seus ministros. Quanto a ilações de
que militares poderiam participar, em suporte a qualquer outra autoridade em um
eventual pleito eleitoral, não tem a menor consideração factual no momento que
nós vivemos”, garante.
(Correio
Braziliense)
Sexta
- feira, 10 de Janeiro, 2020 ás 11:00
Nenhum comentário:
Postar um comentário