As
buscas e apreensões feitas pela Polícia Federal nos endereços dos quatro
suspeitos de terem hackeado autoridades revelaram centenas de pessoas que
tiveram suas conversas no aplicativo Telegram roubadas. Fontes da PF dizem que
entre as vítimas estão autoridades dos três poderes e também jornalistas.
Já
se sabe que o ministro da Economia, Paulo Guedes, foi alvo desse grupo, além do
ministro da Justiça, Sérgio Moro, e de procuradores da Lava Jato. Guedes
comunicou na segunda-feira que teve o celular monitorado.
Investigadores
da PF encontraram provas de que os quatro participaram do crime em perícias, e
nas buscas e apreensões de sete endereços relacionados a eles, além de
depoimentos. Os peritos levaram horas para copiar todo material apreendido nos
locais de busca.
Policiais
que participam das investigações guardam em sigilo a informação sobre quem
encomendou o material ou se ele foi vendido. Os quatro presos estão em Brasília
onde prestam depoimentos.
Entenda
a investigação
Os
presos foram transferidos para Brasília. Segundo a PF, por questão de espaço,
dois deles permaneceram na carceragem da superintendência e os outros dois,
levados por volta das 23h desta terça para local não informado.
Um
dos endereços alvo de buscas nesta terça foi a residência da mãe de Gustavo
Henrique Elias Santos, em Araraquara. Santos, no entanto, foi preso na capital
paulista. Ele trabalha com shows e eventos, segundo investigadores.
Além
do casal, detido em São Paulo, a PF prendeu em Araraquara Walter Delgatti Neto,
que já responde a processos por estelionato. Segundo informações da Justiça
Eleitoral, ele foi filiado ao DEM. A defesa de Delgatti Neto não foi
localizada.
Há,
ainda, um quarto preso, em Ribeirão Preto, Danilo Cristiano Marques.
O
inquérito está sendo conduzido pelo delegado Luiz Flávio Zampronha, que, em
2005 e 2006, presidiu o inquérito do Mensalão.
Autoridades
Além
de Moro, procuradores da força-tarefa da Lava Jato no Paraná e outras
autoridades teriam sido alvo de hackers – no mandado de buscas, há menção ao
desembargador federal Abel Gomes, do Tribunal Regional Federal da 2.ª Região,
no Rio, ao juiz Flávio Lucas, da 18.ª Vara Federal do Rio e aos delegados da PF
Rafael Fernandes, em São Paulo, e Flávio Vieitez Reis, em Campinas.
A
PF informou também nesta terça que vai investigar a suspeita de invasão nos
aparelhos celulares do ministro da Economia, Paulo Guedes, e da deputada Joice
Hasselmann (PSL-SP).
Desde
9 de junho, o site The Intercept Brasil divulga supostas mensagens trocadas
pelo então juiz federal titular da Lava Jato em Curitiba com integrantes do
Ministério Público Federal, principalmente com Dallagnol. Foram divulgadas pelo
The Intercept e outros veículos conversas atribuídas ao ex-juiz e a
procuradores no aplicativo Telegram. O site afirmou que recebeu de fonte
anônima o material, mas não revelou a origem. Moro nega conluio – ele e
Dallagnol afirmam não reconhecer a autenticidade das conversas.
O
ministro da Justiça já afirmou que a invasão virtual foi realizada por um grupo
criminoso organizado. Para ele, o objetivo seria invalidar condenações por
corrupção e lavagem de dinheiro, interromper investigações em andamento ou
“simplesmente atacar instituições”.
Em
19 de junho, Moro passou oito horas e meia respondendo a questionamentos de
senadores na Comissão de Constituição e Justiça da Casa sobre supostas
mensagens que sugerem atuação conjunta com os procuradores quando ele era juiz.
Falsificação
Spoofing,
segundo a PF, é um tipo de falsificação tecnológica que tenta enganar uma rede
ou pessoa fazendo-a acreditar que a fonte de uma informação é confiável. “As
investigações seguem para que sejam apuradas todas as circunstâncias dos crimes
praticados”, informou a PF. A operação mira “organização criminosa que
praticava crimes cibernéticos”.
O
celular de Moro foi desativado em 4 de junho. O aparelho foi invadido por volta
das 18h. Ele percebeu após receber três telefonemas do seu próprio número. O
ex-juiz acionou então investigadores da PF. O último acesso de Moro ao aparelho
foi registrado no WhatsApp às 18h23 daquele dia. O suposto hacker teria tentado
se passar pelo ministro no Telegram.
(Estadão
Conteúdo)
Quarta-feira,
24 de julho, 2019 ás 16:20
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