O Messias tem de ser preso pelo exercício
ilegal da medicina: charlatanismo. Ele insiste em induzir a população à
eficácia do medicamento cloroquina no combate à Covid-19. Antes essa substância
fosse completamente inócua. Mas não é. Desenvolvida para o tratamento da
malária, artrite reumatoide e lúpus, no caso do novo coronavírus o remédio pode
causar danos irreversíveis – entre eles, a morte. É, assim, inadmissível a sua
prescrição, como atestam estudos e conclusões dos principais pesquisadores da
comunidade científica mundial.
Além
da cloroquina e de sua versão mais branda, a hidroxicloroquina, não
apresentarem a menor comprovação científica contra o coronavírus, esse
medicamento que Jair Bolsonaro e o ministro interino da Saúde, general Eduardo
Pazuello, querem empurrar garganta abaixo dos brasileiros, tem efeitos
colaterais perigosíssimos. São eles: convulsão, confusão mental, taquicardia,
comprometimento hepático, arritmia, parada cardíaca, lesão muscular, vaso
dilatação, hipotensão, manifestações na pele, visão dupla, cegueira e
embranquecimento capilar. E morte. A lista parece não ter fim e cada um dos
malefícios citados são comprovados por médicos, pesquisadores e cientistas.
Claro que Bolsonaro acha que sabe muito mais que todos eles juntos. Quanto a
Pazuello, como general ele é um excelente recruta: obedece cegamente às ordens
do capitão.
Jogando
no lixo toda e qualquer contraindicação, a dupla capitão-recruta assinou na
quarta-feira 20 um falso protocolo (eles chamam de protocolo), no qual recomendam
o uso de cloroquina e hidroxicloroquina, em duas tomadas de 400 mg ao dia, para
pessoas que estiverem no estágio inicial da infecção. Por que o protocolo não
pode levar esse nome? Simplesmente porque não tem assinatura de nenhum
responsável da área médica do ministério (denunciado isso, soltaram uma segunda
edição assinada). Acredite se quiser, mas o texto que recomenda tal substância
é apócrifo. Para sorte dos brasileiros, legalmente nenhum médico é obrigado a
seguir a dupla charlatã — e, caso o profissional da saúde queira prescrevê-lo,
é imprescindível a anuência do paciente. O equivocado “protocolo” chegaria a
ser ridículo não fosse um perigoso caminho para o falecimento por arritmia
cardíaca — de seu trecho final consta que não há comprovação científica. Ele
próprio se anula. Como já se disse, Bolsonaro tem de ser preso. E com uma
agravante do tamanho de sua perversidade: segundo o ex-ministro Luiz Henrique
Mandetta, Bolsonaro chegou a pedir que fosse alterada a bula (alteração de
bula!!!) Da medicação no Brasil, introduzindo que poderia ser indicada à
Covid-19.
A
ciência, diferentemente de Bolsonaro, é séria. E não lida com achismos. Estudos
das universidades americanas da Carolina do Sul e da Virgínia, dois templos
mundiais de pesquisas, comprovaram um aumento considerável na letalidade de
infectados que trataram a doença com cloroquina ou hidroxicloroquina: 27,8% dos
368 pacientes avaliados, internados em 170 hospitais, morreram após tomarem
tais remédios. Já aqueles que o combinaram com antibióticos, a percentagem de
letalidade foi de 22,1 %. O índice de óbitos entre enfermos que não fizeram
esse tratamento é muito mais baixo: 11,4%. De acordo com a Universidade de
Álvaro, em Coimbra, uma das mais conceituadas do planeta, a mortalidade
daqueles que usaram cloroquina no tratamento do coronavírus foi 3,6% maior se
cotejada com o número de falecimentos entre os que não se valeram do
medicamento. Ou seja, uma pessoa infectada, mas que o coronavírus não
apresentava risco algum, pode ocupar os leitos hospitalares após o uso indevido
da cloroquina e do hidroxicloroquina. Pode morrer! A Universidade de Columbia,
excelência no campo da pesquisa científica, também comprovou o aumento de casos
de parada cardíaca nos pacientes.
E
as tradicionais universidades de Harvard e Oxford vão na mesma linha de
conclusões. Seja em sua versão mais concentrada (cloroquina) ou menos saturada
(hidroxicloroquina), a sua indevida utilização prolonga a chamada “ativação do
sistema elétrico do corpo humano”, responsável por nos manter de pé. E vivos.
Quando essas “fases elétricas” que ativam o coração são prolongadas ocorre um
alto risco de arritmia e parada cardíaca. “A ampliação da prescrição vai matar
mais gente em casa”, alertou Mandetta. Unidas, as sociedades brasileiras de Infectologia,
de Medicina Intensiva e de Pneumologia, redigiram um manifesto: “a indicação
vai na contramão de todos os estudos da comunidade científica”. Mais de
quatrocentas entidades criticam o presidente.
“Ciência
e política: duas vocações”, de autoria de Max Weber, um dos fundadores da
Sociologia, é uma obra que Bolsonaro poderia tentar ler, embora seja provável
que ele não conseguiria entendê-la em uma palavra sequer. Por que? Porque
burrice e más intenções, esse sim, são uma única profissão na cabeça do
presidente. Vale frisar, aqui, que alguém que tenta criminosamente alterar a
bula de uma medicação, como afirmou Mandetta a respeito do mandatário, é
criminoso. Tal qual a cloroquina, Bolsonaro é contraindicado à vida!
*IstoÉ
Sexta-feira,
22 de maio, 2020 ás 10:00
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