O presidente omitiu de sua agenda oficial
o encontro que teve com o delegado da Polícia Federal Carlos Henrique Oliveira
de Sousa, que na época havia sido escolhido pela PF para comandar a
Superintendência do Rio de Janeiro. Esse encontro foi revelado pelo próprio
Carlos Henrique em depoimento prestado ontem, mas não consta em nenhum dia da
agenda presidencial do segundo semestre de 2019, segundo levantamento feito
pelo Globo.
No
depoimento, Carlos Henrique narra ter sido levado ao Palácio do Planalto pelo
delegado Alexandre Ramagem, diretor da Agência Brasileira de Inteligência
(Abin), para conhecer Bolsonaro. Ramagem era o nome escolhido pelo presidente
para comandar a PF em substituição ao diretor-geral Maurício Valeixo, mas o
ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes vetou essa
nomeação, por entender haver “desvio de finalidade”.
No
segundo semestre, a agenda de Bolsonaro registra dez reuniões com a presença de
Ramagem, mas nenhuma delas com a presença de Carlos Henrique. Desses encontros,
três deles foram a sós entre Ramagem e Bolsonaro. Não há registro de qualquer
agenda de Carlos Henrique Oliveira com o presidente.
As interferências indevidas do presidente Bolsonaro na PF do Rio de
Janeiro são alvo de um inquérito em andamento no Supremo Tribunal Federal, que
apura se o presidente tinha interesse em interferir em investigações em
andamento contra familiares e aliados. O delegado Carlos Henrique Oliveira, que
hoje ocupa o cargo número dois na hierarquia da PF, foi ouvido duas vezes nessa
investigação.
Segundo
fontes da PF, na época do encontro, Carlos Henrique Oliveira havia sido
anunciado pela corporação como o novo superintendente do Rio, mas a sua
nomeação no Diário Oficial estava travada por uma resistência de Bolsonaro.
Isso porque, em agosto do ano passado, o presidente tentou indicar um nome sua
confiança para o cargo, mas houve resistência interna da PF. A corporação não
quis nomear o indicado por Bolsonaro e escolheu Carlos Henrique para chefiar a
PF do Rio.
Em
15 de agosto, a PF soltou uma nota anunciando o seu nome para o cargo, mas a
nomeação demorou meses para sair no Diário Oficial.
Entre
outubro e novembro, ainda sem sua nomeação definida, Carlos Henrique foi levado
por Ramagem para o encontro com Bolsonaro. Segundo interlocutores, Ramagem
viabilizou o encontro para que Bolsonaro conhecesse o futuro superintendente da
PF do Rio e, com isso, diminuísse a resistência com a indicação de seu nome. De
acordo com fontes da PF, o então ministro da Justiça Sergio Moro só foi informado
do encontro depois que ele ocorreu.
A
agenda presidencial registra encontros a sós entre Ramagem e Bolsonaro em 2 e 7
de novembro. Esse período coincide com o relato feito por Carlos Henrique, de
que esteve em Brasília próximo ao final do curso de formação de policiais
federais quando foi levado ao Planalto por Ramagem. A cerimônia de encerramento
desse curso foi em 8 de novembro.
Pouco
tempo após o encontro, a nomeação de Carlos Henrique foi destravada. O decreto
de nomeação foi publicado no Diário Oficial da União em 21 de novembro.
A
reportagem questionou a Secretaria de Comunicação do Palácio do Planalto na
noite de ontem sobre a omissão ao encontro com Carlos Henrique, mas não houve
resposta até a publicação desta matéria.
Em
seu primeiro depoimento, Carlos Henrique havia omitido sua relação com Ramagem.
Por isso, ele pediu aos investigadores para ser ouvido novamente. Neste segundo
depoimento, o delegado revelou que foi levado ao encontro com Bolsonaro por
Ramagem.
“Havia um convite prévio do delegado Alexandre
Ramagem para que o depoente comparecesse numa audiência com o presidente Jair
Bolsonaro”, relatou no seu depoimento. Segundo Carlos Henrique, o então
ministro da Justiça Sergio Moro e o então diretor-geral da PF Maurício Valeixo
foram informados do convite e autorizaram o encontro, mas não participaram da
reunião.
“A
reunião ocorreu no Palácio do Planalto, tendo participado apenas o depoente, o
delegado Alexandre Ramagem e o presidente Jair Bolsonaro”, afirmou.
Segundo
seu relato, Bolsonaro contou sobre sua trajetória política, mas não falou sobre
investigações em andamento na Superintendência do Rio.
*O
Globo
Quinta-feira,
21 de maio, 2020 ás 07:10
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