Depois
de um desgaste na relação entre Rodrigo Janot, no fim do mandato como
procurador-geral da República, e o Supremo Tribunal Federal (STF), a
expectativa na Corte é de que sua substituta, Raquel Dodge, titular da PGR a
partir desta segunda-feira (18), foque no papel institucional do Ministério
Público Federal, sem descuidar dos rumos da Operação Lava Jato.
A
forma como Janot conduziu o episódio do áudio do empresário Joesley Batista,
dono da J&F, e Ricardo Saud, ex-executivo da holding, causou desconforto no
STF.
Ministros
e auxiliares avaliaram que, quando anunciou a descoberta da gravação que trazia
indícios de omissão de fatos graves por delatores, Janot expôs negativamente o
Tribunal por ter revelado, sem explicar o contexto, que havia citações a seus
integrantes.
Se
o perdão judicial concedido por Janot aos executivos da J&F já era alvo de
questionamentos, após o episódio da gravação surgiram dúvidas sobre se a PGR se
descuidou neste acordo de colaboração.
Ministros
do Supremo elogiam o perfil da sucessora de Janot e dizem acreditar que, pela
experiência na área do direito penal, ela vai atuar de forma firme e rigorosa,
sem comprometer os desdobramentos da Lava Jato.
Em
sinal de deferência à Corte, Raquel fez questão de se encontrar com ministros
antes de sua posse, apresentando a equipe e entregando pessoalmente convites
para a solenidade, que terá a presença do presidente Michel Temer - alvo de
duas denúncias de Janot, a mais recente apresentada na quinta-feira ao Supremo
por organização criminosa e obstrução da Justiça.
Auxiliares
da presidente do STF, ministra Cármen Lúcia, apostam em "um novo
tempo", com uma maior harmonização das relações com a PGR.
Único
ministro do STF publicamente crítico a Janot, Gilmar Mendes não esconde a expectativa
pela substituição do desafeto por Raquel.
"Ela
é uma pessoa qualificada, tem grande experiência institucional no Ministério
Público e enfrenta um grande desafio pela frente: restaurar os laços de
credibilidade da Procuradoria-Geral. Tenho a impressão de que ela restaura um
quadro de normalidade, de confiança e de decência nos quadros da PGR",
disse.
O
ministro não participou do julgamento em que, por nove a zero, o STF rejeitou
afastar Janot das investigações contra Temer no caso J&F.
Para
o ministro Luiz Fux, Raquel cumpre bem as "funções institucionais".
"Ela encarna a figura do MP como ele deve ser, é bem equilibrada,
discreta, enérgica", disse.
Segundo
o ministro Marco Aurélio Mello, a Lava Jato estará em "boas mãos".
"A doutora Raquel é uma pessoa aplicada, é uma pessoa que tem os olhos
voltados para os interesses nacionais permanentes." (AE)
Segunda-feira
18 de setembro, 2017 ás 00hs05
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