O
dentista aposentado Waldo Antônio Nahur, 80, viu parte das economias guardadas
em uma caderneta de poupança por vinte anos ser garfadas por mais um dos planos
econômicos que os governos das décadas de 80 e 90 propunham toda vez que os
preços saíam de controle. Era janeiro de 1989 e o então presidente José Sarney
lançou o Plano Verão, que mudava o índice de correção da poupança, congelava
preços e salários.
Nahur
é uma das 3 milhões de pessoas que entraram com ações na Justiça para reclamar
a diferença da correção do saldo da poupança causada pelos planos Bresser
(1987), Verão (1989) e Collor 2 (1991). Quase trinta anos depois, bancos e
poupadores fecharam um acordo para pagamento das perdas sofridas pelos
correntistas em dezembro do ano passado. O dentista recebeu sua indenização em
julho, mas bem menor do que esperava. Pelos cálculos de seus advogados, Nahur
teria direito a um crédito de 50.000 reais. Como aderiu ao acordo, acabou
recebendo apenas 9.000 reais.
“Ele
não quis brigar pelo dinheiro na Justiça porque achou melhor receber alguma
coisa do que poupou em vida do que não ganhar nada. O investimento foi dele e é
justo que ele receba, não seus herdeiros”, afirma Michelle Pessanha Siqueira,
advogada do aposentado.
Para
ganhar a causa, Michelle afirma que teve de juntar fotografias do aposentado no
hospital e até guardar comprovante de gastos com medicamentos para comprovar a
necessidade financeira dele. “Conseguirei pagar apenas cinco meses do meu plano
de saúde com o dinheiro”, calcula Nahur, de poucas palavras.
Um
acordo foi firmado no fim de 2017 entre bancos e poupadores para ressarcir
todos os investidores que ingressaram na Justiça com ações individuais ou que
executaram sentenças de ações civis públicas ou coletivas movidas por entidades
de defesa do consumidor.
Um site foi criado em maio para o poupador aderir ao
acordo. No portal, o usuário cadastra o valor do extrato de sua poupança e
recebe o valor atualizado automaticamente. Estevan Pegoraro, presidente da Febrapo
(Frente Brasileira pelos Poupadores), diz que quando a pessoa assina o acordo
voluntário, abre mão da disputa judicial. “Com a plataforma, não há mais
necessidade de desarquivar processos. Um trabalho que levava seis meses, caiu
para dois”, afirma.
O
presidente da Febrapo ressalta que os pagamentos começaram a ser feitos em
julho e, até o momento, cerca de 1.000 poupadores já foram indenizados.
Calendário de acordos
Pessoas
que nasceram entre 1939 e 1943 podem aderir ao acordo dos planos econômicos por
meio da plataforma digital desde ontem. Segundo Pegoraro, o quarto lote é o
mais importante do acordo.
“Nas
primeiras fases, efetuamos os pagamentos dos poupadores mais idosos. O quarto e
quinto lotes concentram o maior número de poupadores, nascidos a partir da
década de 1940”, explica ele.
Desde
que foi lançado, o site de acordos registrou mais de 70.000 adesões de
poupadores até sexta-feira (17). (VEJA)
Terça-feira
21 de agosto, 2018 ás 18:00
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