A
Base Nacional Comum Curricular (BNCC) do ensino básico incluiu entre as
competências que o aluno deve ter a leitura crítica da informação que recebe
por jornais, revistas, internet e redes sociais. Especialistas avaliam que foi
um avanço a inclusão da educação midiática na BNCC, pois a escola poderá dar
instrumentos para que o estudante possa se tornar um consumidor e produtor de
conteúdo responsável.
No
fim de 2017, o Ministério da Educação homologou a Base Nacional Comum
Curricular do ensino infantil e fundamental e, no fim do ano passado, aprovou a
BNCC do ensino médio. O documento estabelece o mínimo que deve ser ensinado em
todas as escolas do país, públicas e particulares.
A
partir da base, os estados, as redes públicas de ensino e as escolas privadas
deverão elaborar os currículos que serão de fato implementados nas salas de
aula. Os novos currículos para o ensino básico estão em fase de elaboração
pelos estados.
Habilidade
A
base prevê, por exemplo, que o aluno do sexto ao nono ano do ensino fundamental
desenvolva a habilidade de leitura e produção de textos jornalísticos em
diferentes fontes, veículos e mídias, a autonomia e pensamento crítico para se
situar em relação a interesses e posicionamentos diversos, além de saber
diferenciar liberdade de expressão de discursos de ódio.
“A
questão da confiabilidade da informação, da proliferação de fake news [notícias
falsas], da manipulação de fatos e opiniões tem destaque e muitas das
habilidades se relacionam com a comparação e análise de notícias em diferentes
fontes e mídias, com análise de sites e serviços checadores de notícias [...]”,
diz um trecho do documento.
Para
os estudantes do ensino médio, as habilidades preveem a ampliação do repertório
de escolhas de fontes de informação e opinião, a comparação de informações
sobre um fato em diferentes mídias, além do uso de procedimentos de checagem de
fatos e fotos publicados para combater a proliferação de notícias falsas.
A
base também recomenda que os alunos possam atuar de maneira ética e crítica na
produção e compartilhamento de comentários, textos noticiosos e de opinião e
memes nas redes sociais ou em outros ambientes digitais.
Desafios
A
presidente do Instituto Palavra Aberta, Patrícia Blanco, afirma que foi um
significativo ganho colocar o tema da educação para a mídia na BNCC, pois
significa que o campo jornalístico-midiático terá que ser abordado pelas
escolas em âmbito nacional. No entanto, ela destacou que há ainda um longo
trabalho pela frente para que a prática seja efetivamente adotada nos
currículos.
“Nunca
foi tão necessário, nesse ambiente de tecnologia, educar para a mídia, para o
consumo de informação. Se a criança e o adolescente desenvolvem senso crítico,
a escola está contribuindo para a formação de cidadãos que podem exercer melhor
sua liberdade de expressão”, diz Patrícia.
“Educação
midiática tem o papel de antídoto às fake news: você percebe que tem algo
estranho, vai pesquisar outra fonte, e não simplesmente compra uma informação
como verdade absoluta e a repassa para a frente”, acrescenta a especialista.
Segundo
ela, são três os desafios atuais para a iniciativa chegar às salas de aula:
disseminar o conceito da educação midiática, divulgando sua importância, formar
os professores para que eles possam abordar o tema, e desenvolver a produção de
conteúdos e materiais relevantes para serem usados na escola.
Alfabetização
O
representante do Comitê Internacional da Aliança Global para Parcerias em
Alfabetização de Mídia e Informação da Organização das Nações Unidas para a
Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) na América Latina e Caribe, Alexandre
Sayad, lembra que o tema está incluído entre as competências a serem abordadas
na disciplina de língua portuguesa.
“O
professor de língua portuguesa vai ter que colocar na sua aula. Mas nada impede
outra disciplina abordar o tema. A questão da mídia é presente na vida das
pessoas. Há uma tendência na educação, em geral, de se descompartimentalizar as
disciplinas”, diz Sayad.
Segundo
ele, atualmente há poucas escolas no Brasil que tratam do assunto em sala de
aula. “Identificar a fonte de notícia é uma habilidade necessária no mundo
hoje. É pela alfabetização midiática que você consegue separar o joio do trigo
na mídia”. (ABr)
Sábado,
09 de fevereiro, 2019 ás 11:00
Nenhum comentário:
Postar um comentário