Diálogo
e parceria entre professores e alunos, envolvimento da comunidade, dos pais e
responsáveis nas atividades escolares, apoio das secretarias de educação, uso
de dados e monitoramento da aprendizagem. Com essa estratégia, escolas públicas
que atendem alunos de baixo nível socioeconômico se destacaram na Prova Brasil
e no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).
As
escolas foram identificadas no estudo “Excelência com Equidade no Ensino Médio:
a dificuldade das redes de ensino para dar um suporte efetivo às escolas”,
produzido pela Fundação Lemann, Interdisciplinaridade e Evidências no Debate
Educacional (Iede), Instituto Unibanco e Itaú BBA.
Ao
todo, 100 escolas de um total de 5.042 se destacaram por boas práticas. Nelas,
pelo menos 95% dos alunos concluíram os estudos, o que mostra que as unidades
conseguiram evitar o abandono escolar. São escolas capazes de ofertar aos
alunos boa base de conhecimentos, ajudá-los em projetos de vida, obtendo bons resultados
em avaliações nacionais. Todas atendem a estudantes de baixo nível
socioeconômico.
Quatro
estados despontaram na lista com o maior número de escolas: Ceará, com 55,
Espírito Santo, com 14, Goiás e Pernambuco, com sete cada.
Desafios
A
pesquisa, segundo o diretor executivo do Iede e pesquisador responsável pelo
estudo, Ernesto Martins Faria, evidencia desafios enfrentados pelo ensino médio
brasileiro, como o ensino integral, que atualmente chega a 10,8% dos estudantes
do ensino médio público. No modelo integral, os estudantes que passam sete
horas diárias na escola e participam de atividades diversas. Pelo menos 82% das
100 escolas apontadas no estudo são de tempo integral.
Para
melhorar os resultados, os estabelecimentos oferecem reposição de conteúdos
ainda do ensino fundamental, além de aulões simulados. Oferecem ainda
atividades para trabalhar as chamadas habilidades socioemocionais, como
empatia, criatividade, responsabilidade e ética.
“Para
conseguir fazer tudo isso, as instituições precisam de mais tempo. Ao passo que
sao escolas que nos inspiram com práticas, fazem isso em um contexto de apenas
10% de alunos matriculados do ensino médio. Esse parece ser o desafio, pois
poucas escolas com tempo regular têm conseguido resultados positivos.”
Outro
desafio, segundo o diretor, é a necessidade da formação de professores. “O
papel do professor junto ao jovem na adolescência traz desafios. Temos que
ensinar a disciplina, mas também se relacionar socioemocionalmente com os
alunos. A matemática é mais complexa, as ciências têm um nível complexo. É
preciso usar estratégias para engajar os alunos, que muitas vezes saem
desmotivados do ensino fundamental”, afirmou
A
pesquisa voltada para o ensino médio é a terceira etapa da série Excelência com
Equidade, que começou em 2012, com a análise dos anos iniciais do ensino
fundamental.
A
partir de 2015,é que os "anos finais" passaram a ser estudados.
Valorização
do professor
A
Agência Brasil conversou com alguns dos diretores de escolas selecionadas sobre
os "segredos" para o bom desempenho dos estudantes.
Na
escola Gisela Salloker Fayet, em Domingos Martins (ES), a valorização dos
professores é o diferencial. “O foco é o aprendizado do aluno, mas para atingir
esse foco, tínhamos que passar pelo profissional que trabalha com ele, que é o
professor”, destacou a diretora da escola, Josilene Werneck. Os profissionais
participam de diversas reuniões de equipe, trocam experiências e discutem as
melhores práticas. O segredo, segundo ela, está também na escuta sensível e no
apoio aos docentes.
“A
equipe cresceu muito e ficou mais preparada para assumir metodologias mais
complexas." Segundo Josilene, “planejamento é ouro”. A escola elaborou
formulários que devem ser preenchidos pelos profissionais, o que facilitando o
trabalho da equipe.
A
escola Gisela Fayet está localizada em Paraju, distrito que tem cerca de 2 mil
habitantes, em uma região serrana, de imigração alemã, no município de Domingos
Martins. Os alunos, em geral, são de famílias de agricultores, pequenos
proprietários, meeiros e empregados das lavouras. A comunidade tem uma ligação
com a escola, que promove eventos para integrar os moradores, como a Feira de
Ciências, que tem como objetivo apresentar soluções para os desafios da região.
“Os
alunos que saem do ensino médio, antes raríssimos, agora são muitos. Eles saem
bem preparados”, afirma a diretora. A média obtida por estudantes nas provas
objetivas do Enem em 2017, foi 545,53. Na prova de redação, a média foi 609,70.
Segundo dados da Prova Brasil, 63% dos estudantes deixam o ensino médio com
aprendizado adequado em língua portuguesa e, 51%, em matemática.
Foco
no cuidado
Cuidar
de si mesmo, cuidar dos demais e cuidar do ambiente onde vivem é um dos
preceitos da Escola de Referência em Ensino Médio de Salgueiro, localizada à
beira de uma rodovia, a quatro quilômetros do centro de Salgueiro, município
com cerca de 60 mil habitantes, no sertão de Pernambuco.
O
cuidado começa no ingresso dos estudantes no estabelecimento. Para cada turma
de ensino médio, a escola faz um diagnóstico sobre o nível de aprendizado dos
jovens e traça metas para suprir a defasagem que carregam do ensino
fundamental. O trabalho dura um mês de forma mais intensa e, depois, segue com
aulas de reforço semanais.
De
acordo com a diretora da escola, Ana Clarisse Gomes, os próprios alunos são
protagonistas no processo e aqueles que têm facilidade em determinado assunto,
ajudam os demais, em monitorias.
A
escola oferece ainda aulões e simulados mensais para preparar os alunos para
ingressar na faculdade, além de aulas de empreendedorismo.
Aspectos
socioemocionais também são trabalhados. “Trabalhamos com esse foco de olhar o
aluno em todas as suas dimensões, cognitiva, emocional, espiritual e afetiva.
Temos um foco forte em empreendedorismo e projetos de vida. Para discussão e
reflexão, os estudantes montam um diário de bordo, onde fazem uma projeção da
própria vida para daqui a quatro, cinco, seis, dez anos, e aprendem a
empreender neles mesmos”, explica Ana Clarice.
A
escola obteve média 517,05 nas provas objetivas do Enem, e 593,51, na prova de
redação, em 2017. De acordo com os resultados da Prova Brasil, 47% dos
estudantes deixam o ensino médio com aprendizado adequado em língua portuguesa
e 24%, em matemática.
Acompanhamento
de perto
No
Centro de Ensino em Período Integral Professor Pedro Gomes cada professor é
responsável por um grupo de 20 alunos. “Se o aluno mata aula, o professor
conversa com ele. Se cai o rendimento, o professor conversa. Se tem alguma crise
emocional, o professor está ali para ouvir, oferecendo uma escuta generosa,
solidária”, diz o diretor da escola, José Joaquim Neto.
Localizada
em Goiânia (GO), a escola recebe, a maioria, estudantes da periferia e também
de cidades da região metropolitana, além de filhos de trabalhadores do bairro
de Campinas, onde se situa. A diversidade é marca identitária da escola, que
desenvolve diversos projetos que visam desenvolver nos alunos competências
socioemocionais.
“A
escola trabalha com o currículo como qualquer escola tradicional, mas não é
onde está o pulo do gato dos resultados. Ele está em reconhecer que somente as
competências cognitivas não são suficientes para os alunos enfrentarem os
desafios que vão enfrentar na vida moderna, que precisam desenvolver as
[habilidades] socioemocionais”, Neto.
A
escola trabalha com projetos específicos para cada ano. No 1º ano do ensino
médio, os estudantes escrevem livros, que são publicados em formato físico ou
digital; no 2º, produzem vídeos curtas-metragens, exibidos em mostra
competitiva organizada pela escola; e, no 3º, escrevem artigos científicos.
Neste ano, a escola irá produzir uma revista científica para publicar esses
artigos, que seguem o rito da academia, sendo avaliados por uma banca de três
professores.
No
Enem, a escola obteve média 531,27 nas provas objetivas e 574,81 na prova de
redação, em 2017. De acordo com os resultados da Prova Brasil, 63% dos
estudantes deixam o ensino médio com aprendizado adequado em língua portuguesa
e 12%, em matemática.
Apoio
da rede
Localizada
em Sobral (CE), a escola Lysia Pimentel Gomes Sampaio de Sales conta com o
apoio do governo para oferecer aos estudantes infraestrutura adequada. O espaço
escolar inclui auditório bem equipado com sistema de som e projeção, quadra
esportiva com arquibancada, biblioteca, laboratórios e uma sala que pode ser
usada de acordo com as demandas específicas.
“Temos
uma política no Estado que tem mais de 20 anos de melhoria da escola pública”,
afirmou a diretora Ana Emília Dias Pinheiro. "Já que estado é tão pobre, o
que tem que fazer é estudar para melhorar”.
O
cenário ideal de infraestrutura contrasta com a realidade da comunidade, a
escola fica na divisa de três bairros dominados pelo tráfico de drogas, com
alto índice de violência.
Na
instituição, a disciplina rigorosa é uma característica, mas sem deixar de lado
as competências socioemocionais e o cuidado com cada estudante.
Cada
turma tem um professor como padrinho, responsável por acompanhar os estudantes
e, quando necessário, encaminhar para acompanhamento por psicólogos. Segundo
Ana Emília, a integração entre saúde, educação e assistência social facilita o
processo, em Sobral.
“A
gente exige muito dos alunos, exige disciplina, mas exige também o lado
socioemocional, que ele se valorize, que se capacite, que a autoestima esteja
elevada, que ele se respeite e respeite os outros. Não há um exagero de aulas à
noite ou no sábado, mas eles fazem o que tem que fazer, na hora que tem que
fazer, desde a primeira à última hora. ”
A
escola obteve média 582,43 nas provas objetivas e 716,84, na prova de redação,
em 2017. De acordo com os resultados da Prova Brasil, 88% dos estudantes deixam
o ensino médio com aprendizado adequado em língua portuguesa e 66%, em
matemática. (ABr)
Quarta-feira,
25 de setembro ás 12:00
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