As
infecções hospitalares causadas por fungos multirresistentes devem se tornar cada
vez mais comuns, segundo o pesquisador do Instituto de Medicina Tropical da
Universidade de São Paulo João Nóbrega de Almeida Jr. “Se existe a
superbactéria, existe o superfungo também”, disse o especialista que atua
também no Hospital da Clínica de São Paulo ao comparar os fungos resistentes à
superbactéria KPC (Klebsiella pneumoniae carbapenemase).
Recentemente,
Almeida publicou um artigo no jornal científico Transplant Infectious Disease
sobre o primeiro caso de um paciente contaminado pelo fungo Lomentospora
prolificans na América do Sul. O rapaz havia feito transplante de medula há
cerca de um mês quando foi infectado pelo fungo e acabou morrendo em
decorrência da contaminação.
Segundo
o pesquisador, o fungo só é capaz de afetar pessoas com o sistema imunológico
comprometido. No entanto, caso a contaminação aconteça, a letalidade é de mais
de 80%. Como ainda existem poucos laboratórios preparados para identificar esse
tipo de infecção, Almeida acredita que possa haver casos não registrados. “Esse
fungo não deve ter em grande quantidade no ambiente, como em outros países, mas
também porque os nossos laboratórios não são habilitados para fazer o
diagnóstico”, afirma.
Existem,
entretanto, outros fungos que apresentam uma ameaça maior por poderem infectar
não só pacientes com o sistema imunológico fragilizado, mas em situação
delicada de internação, como em unidades de tratamento intensivo. Esse é o caso
do Cândida auris.
Surtos na América do Sul
Em
março de 2017, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) divulgou um
comunicado de risco para o fungo, responsável por surtos em diversas partes do
mundo. Foram registradas ocorrências no Japão, na Coreia do Sul, na Índia, no
Paquistão, na África do Sul, no Quênia, no Kuwait, em Israel, na Venezuela,
Colômbia, no Reino Unido, nos Estados Unidos e no Canadá. O Centro de Controle
e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos tem emitido alertas para o fungo.
As
ocorrências em países da América do Sul indicam, de acordo com o pesquisador,
que em algum momento o Brasil terá de lidar com o Cândida auris. “A gente está
se preparando com uma força-tarefa nacional com vários pesquisadores para
quando chegar esse fungo no país a gente fazer o diagnóstico correto”,
ressalta.
Agrotóxicos e mudanças
climáticas
As
infecções hospitalares por fungos têm se tornado mais comuns devido ao aumento
da resistência de algumas variedades desses organismos. Segundo Almeida, há
indícios que o surgimento dos fungos multirresistentes está ligado ao uso de
defensivos agrícolas. “A gente acredita [que o surgimento dos fungos
multirresistentes acontece] principalmente pelo uso de antifúngicos fora do
ambiente hospitalar. Na agricultura, por exemplo, nas plantações, os fungos são
os principais biodecompositores, vão destruir verduras, plantas”, destaca.
As
mudanças climáticas também parecem ter, de acordo com o pesquisador, uma
contribuição para o aparecimento de espécies que não são afetadas pela
medicação existente. “O aquecimento global. As alterações climáticas vão
favorecer o aparecimento de fungos que crescem em temperaturas maiores. E os
fungos que crescem em temperaturas maiores são os potencialmente patogênicos,
porque o nosso corpo tem temperatura de 36 graus”, acrescentou.
Apesar
da expansão do problema, Almeida enfatiza que não há risco para a população em
geral. São os sistemas de saúde que precisam se preparar para lidar com as
novas possibilidades de infecção dentro dos hospitais. (ABr)
Domingo,
02 de dezembro, 2018 ás 08:30
Nenhum comentário:
Postar um comentário