É
comum encarar as eleições municipais como um teste para as forças políticas,
verificando a adesão popular à situação ou oposição. Em 2016, por exemplo, os
resultados catastróficos dos partidos de esquerda na corrida para as
prefeituras, influenciados pelo processo de impeachment, já apontavam para a grande
derrota sofrida para os cargos do executivo dois anos depois. Em 2020, não deve
ser muito diferente.
O
presidente Jair Bolsonaro terá dificuldade em garantir prefeituras importantes
para nomes alinhados politicamente com ele. Além da popularidade baixa para o
primeiro ano de mandato (30%, uma das piores entre os presidentes desde a
abertura democrática), Bolsonaro precisa correr contra o tempo para conseguir
registrar o seu partido recém-fundado, o Aliança pelo Brasil. Não deve
conseguir. Portanto, precisará contar com nomes abrigados em outras legendas. O
ex-presidente Lula também deve ter dificuldades para voltar a fortalecer o PT.
Para isso, tem insistido que seu partido lance candidatos próprios. Mas com
isso afasta ainda mais as legendas de esquerda que estão cansadas de viver — e
perecer — à sombra do seu partido. Os extremos não vão ter um caminho
tranquilo. Candidatos abertamente alinhados a Bolsonaro ou Lula não terão vida
fácil. O pleito vai definir até onde o radicalismo pode se manter no País.
Na
cidade de São Paulo, os obstáculos do presidente estão bem representados. A
eleição na capital paulista é crucial pela importância política da cidade, que
representa o terceiro maior orçamento do País. O governador João Doria aposta
na reeleição de Bruno Covas, que ganhou mais simpatia do eleitorado depois da
revelação de sua doença. Doria gostaria de vê-lo na cabeça de chapa, tendo como
vice a deputada federal Joice Hasselmann (PSL), sua amiga. Mas ela rechaça essa
articulação, por enquanto. Se antes o PSL tinha chances reais de vitória com
ela, o racha no partido e a consequente perda do apoio de Bolsonaro diminuíram
as suas chances. Uma das mais recentes pesquisas, divulgada pela XP/Ipespe,
aponta que o apresentador de TV José Luiz Datena, cortejado por vários
partidos, está na frente com 22% das intenções de voto. Ele é o nome que mais
agradaria Bolsonaro. No campo da esquerda, há poucos nomes expressivos. O PT
até considerou não lançar candidatos na cidade devido à baixa expectativa de
vitória, já que o ex-prefeito Fernando Haddad não estaria disposto a disputar
uma terceira eleição em seis anos. Há movimentações para a refiliação da
ex-prefeita Marta Suplicy, que teria a simpatia de Lula, mas ela encontra
resistências dentro da legenda por ter apoiado o impeachment de Dilma Rousseff.
Impasse e obstáculos
No
Rio de Janeiro, o segundo maior colégio eleitoral do País, com aproximadamente
cinco milhões de eleitores, Bolsonaro também deve ter dificuldades. O seu
candidato natural seria Marcelo Crivella (Republicanos), mas pesquisas recentes
mostram uma situação dramática para o atual prefeito, que está às voltas com o
colapso das contas do município. Segundo o Datafolha, 72% consideram a atuação
de Crivella “ruim” ou “péssima”. Ele tem apenas 9% das intenções de votos,
perdendo para Eduardo Paes (DEM) e Marcelo Freixo (PSOL), com 22% e 18%,
respectivamente. O PT gostaria de ver a deputada federal e ex-governadora
Benedita da Silva na disputa, mas ela resiste. Outra disputa chave ocorre no
Recife, com herdeiros de clãs políticos tradicionais: Marília Arraes, neta do
ex-governador Miguel Arraes, e João Campos, filho do ex-governador Eduardo
Campos. Mais uma mostra da dificuldade de união entre os partidos de esquerda.
Fundo eleitoral
O
pleito acontecerá após a polêmica do “fundão” eleitoral. O governo previu no
Orçamento enviado ao Congresso o montante de R$ 2 bilhões, um aumento razoável
em relação ao R$ 1,7 bilhão gasto nas eleições para o Executivo e o Legislativo
em 2018. Os líderes dos maiores partidos tentaram ampliar o valor para R$ 3,8
bilhões, mas a tentativa foi abortada após sua péssima repercussão. Se
aprovada, o PT e o PSL, com as maiores bancadas, teriam direito a R$ 354
milhões a mais do que a previsão inicial — ainda assim, cada partido receberá
pouco mais de R$ 200 milhões cada.
Essas
eleições também serão as primeiras sem a possibilidade de coligação para as
câmaras municipais. A ideia é fortalecer as legendas, impedindo que “puxadores
de votos” criem distorções na representação dos vereadores. Outra mudança se
refere à biometria. É intenção da Justiça Eleitoral que 4.577 municípios do
País utilizem o sistema de identificação para a votação. Até o final de 2019,
restam mais de oito milhões de eleitores a serem cadastrados. (IstoÉ)
Sábado,
21 de Dezembro, 2019 ás 11:00
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