A
presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) e também presidente da República
em exercício, Cármen Lúcia, disse na sexta-feira (27/7) que o poder judiciário
brasileiro precisa ser transformado para atender aos anseios da sociedade.
Segundo ela, a Constituição Federal, que completa 30 anos em 2018, trouxe
muitos avanços para a democracia brasileira, mas ainda há problemas a serem
superados, inclusive privilégios da categoria do judiciário.
“Não
tenho dúvidas que, como todas as instituições estatais, passando por mudanças
no mundo como temos passado, no Brasil também, é preciso que tenha mudanças,
algumas estruturais, algumas que são apenas funcionais. Não tenho dúvidas que
privilégios que são indicados, inclusive pelas corporações do sistema de
justiça, magistratura, ministério público, tem que ser pensados, repensados,
refeitos, restringidos aos limites da legalidade, que é o que nós temos tentado
fazer permanentemente”, disse a presidente interina, em palestra na Associação
Comercial do Rio de Janeiro.
Ela
citou como avanços nessa direção a transparência dos gastos, com a publicação
dos ganhos dos quase 18 mil juízes brasileiros no site do Conselho Nacional de
Justiça, além da Corregedoria Nacional de Justiça. Outro problema citado por
Cármen Lúcia é a demora para a conclusão nos processos judiciais, que, segundo
ela, “continua sendo mais do que o razoável que a Constituição estabelece como
direito das pessoas”. De acordo com a ministra, o Brasil tem 80 milhões de
processos e 18 mil cargos de juiz, sendo que 23% das vagas não estão providas
por causa do limite de gastos no judiciário.
“Estamos
pensando em soluções. Criamos a câmara digital de litigação, considerando que o
segundo maior litigante no sistema judicial brasileiro é o sistema bancário.
Criamos mecanismos novos de mediação, que sem a pessoa precisar sair de casa,
possa impedir a judicialização excessiva, o que tira o tempo do juiz se dedicar
às grandes causas”, disse Cármen Lúcia.
Superação de divergências
A
ministra destacou que o país passa por um momento de insegurança econômica,
política e também jurídica, o que requer a união de todos e superação das
divergências em prol do estado democrático de direito, sem a perda do elo
humano que faz do Brasil um país único, “e não 200 milhões de brasis”.
“Não
acho que tenhamos uma tarefa fácil nem nos próximos dias, nos próximos meses
talvez nem nos próximos anos. Mas, fácil ou difícil, essa é a tarefa que nós
temos para que a gente tenha chance de viver bem. Mas, principalmente, para que
os que vierem depois de nós saibam que nós tentamos. A democracia é uma planta
muito tenra e a gente tem que cuidar todo dia, porque a erva daninha toma conta
muito depressa e não precisa de cuidado. Mas eu não gosto de erva daninha. Eu
tenho gosto é da flor da democracia e é com ela que eu quero viver”, disse
Cármen Lúcia. (ABr)
Sábado,
28 de julho, 2018 ás 00:05
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